sábado, 8 de dezembro de 2012

Falta rumo para o carnaval paraibunense

vidabesta.com

Nesta semana, o debate sobre o carnaval 2013 esquentou as redes sociais. Todo mundo tem uma opinião sobre o assunto. É importante que essa discussão amadureça. Precisamos construir juntos a Paraibuna que queremos.

Primeiramente, que fique claro que o carnaval este ano esta sendo discutido na Fundação Cultural por dois motivos. Primeiro, a Prefeitura não tem dinheiro para fazer o que fez nos últimos: torrar grana numa banda de fora, enquanto nossos artistas ficam com as migalhas. E, segundo, a Diretoria de Turismo, Esporte e Lazer está sem chefia. O novo diretor, que chega agora, não tem tempo e conhecimento, ainda, para organizar alguma coisa. Dessa forma, confiando na qualidade dos eventos produzidos pela instituição cultural, todos contando com participação social, a administração foi bater à porta do Seu Siqueira.


Paraibuna rumo incerto

Bem, o debate sobre o carnaval tem de avaliar vários aspectos como cultura, lazer, economia e turismo. Não dá para pensar a festa isoladamente. O rumo que queremos dar à cidade, e ao carnaval, tem de ser únicos.

No aspecto cultural, temos mantidos os avanços, com importantes conquistas nesta administração. Há anos Paraibuna vem formando artistas, entre eles músicos de diversos gêneros. E é justo que todos pleiteiem o seu espaço. Temos festivais de rock, temos rodas de viola, sertanejo nas festas religiosas, apresentações de música regional.

Porém, no aspecto do lazer, a cidade vem a cada ano perdendo mais. Uma economia municipal e turismo inexistem.


O desenvolvimento social paraibunense

Foram publicados nesta semana dois indicadores de desenvolvimento social dos municípios. Um da Firjan – (Federação da Indústria do Rio de Janeiro) e outro da FGV (Fundação Getúlio Vargas) importantes para este momento.

Para o Índice de Desenvolvimento Social do Sistema Firjan/2012, Paraibuna possui desenvolvimento moderado. “Para compor esse índice foram considerados renda/emprego, educação e saúde a partir de dados de 2010. Os critérios estabelecem quatro categorias: baixo desenvolvimento (de 0 a 0,4), regular (0,4001 a 0,6), moderado (de 0,6001 a 0,8) e alto (0,8001 a 1)”.

Assim, analisando esses indicadores isoladamente, temos renda /emprego quase de baixo desenvolvimento; a saúde é classificada em desenvolvimento moderado e, quanto à educação, temos alto desenvolvimento.


Acompanhando os últimos cinco anos de dados da Firjan, podemos ver que, enquanto Paraibuna avança em educação e saúde, ela retrocede em renda/emprego. Assim, a cidade vem caindo conforme os anos no ranking de desenvolvimento social. Os dados referentes a 2009 estão bem fora da curva, por isso não os estou considerando no momento.

Quanto ao Índice de Desenvolvimento Social da FGV, este é o primeiro ano. Tive acesso apenas ao ranking, não encontrei mais dados para analisá-lo. Nele, Paraibuna ocupa a 1.581ª posição, com 5,26 pontos. De 39 municípios no Vale do Paraíba, estamos na posição 23, atrás de cidades como São Luís do Paraitinga, Santa Branca e Jambeiro.


Paraibuna não dá trabalho

Logo, é urgente Paraibuna pensar em formas de movimentar sua economia, de modo que os cidadãos não precisem sair daqui na busca de melhor qualidade de vida. E vejo duas formas de se fazer isso: criar os empregos aqui ou trazê-los de fora.

Para trazê-los, temos sempre a promessa da industrialização. Mas, aí, é preciso se preocupar com a formação do cidadão. De nada adianta trazer boas empresas para cá que darão emprego para joseenses ou jacareíenses com melhor preparo técnico. Assim, os resultados de um projeto como esse podem demorar um pouco.

Uma forma de se criar oportunidade a partir do que a cidade tem para oferecer, é por meio da exploração do potencial turístico: cultural, ecológico e de lazer. O foco aqui é apenas o carnaval.


O que vai tocar no carnaval?

Aí voltamos para o Carnaval. Uma festa inteligente, bem pensada, pode tanto dar oportunidade aos artistas daqui, valorizando a cultura do município, como trazer renda. Claro que não serão os cinco dias que vão salvar o ano. Por isso, o Carnaval tem de ser pensado de forma integrada a uma identidade da cidade. O que Paraibuna é?

A valorização de uma cultura local, de nossas raízes, aumenta o vínculo do munícipe com o seu local. E essa identificação aumenta a participação politizada. A tendência é que o indivíduo que se reconhece na sociedade, que descobre o vínculo que o liga aos demais, preocupe-se mais com os rumos da cidade. Isso nos falta.


Paraibuna viaja

No aspecto econômico, podemos ter mais dinheiro, pagando bem o artista, movimentando o comércio local, motivando os empresários a investir na cidade.

Oras, ninguém se lembra do carnaval da Bahia por causa do rock ou de São Luís do Paraitinga por causa do sertanejo, nem a peãozada vai pra Barretos esperando funk. O problema não é nenhum gênero musical, o problema é falta de foco e de valorização do artista local. Devemos explorar a produção original local. Quem viaja para ouvir os melhores covers?

Falta, portanto, Paraibuna pensar seriamente no aspecto turístico. A cultura está sendo muito bem cuidada e desenvolvida pela participação social na Fundação Cultural. O reconhecimento é inegável. Mas não é sério a cidade ter uma diretoria que reúne esporte, turismo e lazer. Conjuntamente, nenhum desses recebe o devido valor que tem individualmente.

Para se pensar na melhora da renda/emprego do paraibunenses, para se criar uma economia turística, é essencial que o prefeito de um passo firme e decisivo neste sentido, desmembrando as diretorias de turismo, esporte e lazer, e colocando pessoas competentes para administrá-las.

O carnaval de São Luís do Paraitinga, o qual não devemos copiar, mas nos inspirar, acresceu ao orçamento daquele município neste ano R$ 15 milhões de reais. Em cinco dias, arrecadou-se um terço do orçamento anual de Paraibuna (R$ 47 mi).

E para esse carnaval funcionar, como outros eventos, há necessidade de se melhorar a estrutura, e isso nada tem a ver com a identidade cultural. As noites de carnaval no pátio da rodoviária vêm sendo marcadas por consumo de bebida entre jovens, tráfico e uso de drogas, atos de vandalismo e violência grave. A cidade não se prepara com estrutura de segurança e sanitária adequada para um evento desse tipo. Além do lazer (direito constitucional de todo o cidadão), elas não agregam mais nada financeiramente ou culturalmente. E já vimos o que a desorganização causou na Piaboia...


Participe do debate

O debate deve continuar. É importante que todos saibam que o resultado final não será a vitória ou derrota de qualquer das opiniões envolvidas, mas a construção coletiva, democrática, de uma nova visão da cidade. Às vezes, por imaturidade, acabamos por ofender ou tentar impor uma visão bem particular. Isso não funciona mais.

O debate sobre os rumos do carnaval está sendo tratado na Fundação Cultural, com a participação do Poder Público e da sociedade. Todos os que acreditam poder contribuir devem procurar participar agora. Depois, não adianta ser um revoltado de Facebook.


Leia também
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2 comentários:

Rafael Ribeiro disse...

Olá Rogério, primeiramente quero dizer que recebo por email os links dos textos que publica no blog e que leio todos eles. Percebo que você busca sempre fundamentos e é sempre uma manifestação ponderada, respeito isso.
Pessoalmente não gosto de escrever ou comentar assuntos delicados na internet, pois para ser claro necessito expor diversos conceitos e isso pode tornar o texto longo e chato – preciso desenvolver essa habilidade – mas como estive na reunião e fui o primeiro a me manifestar sobre esse assunto, quero esclarecer alguns pontos.

Na reunião sobre o carnaval, que aconteceu pela primeira vez na Fundação Cultural, manifestei a satisfação de poder discutir essas questões na Fundação – como sempre almejamos e como determina a Lei Municipal 1598/94 em seu artigo 3º, I. Opinei a respeito da inserção compulsória de ritmos que não são ligados a festividades carnavalescas. Em nenhum momento sugeri a proibição de qualquer coisa, mas fiz um desabafo e dei uma sugestão para que cada Bloco trate com carinho da sua participação no carnaval. Independente das razões que levou a discussão do carnaval para dentro da Fundação vejo mais uma oportunidade de mostrar que o artista paraibunense tem talento e capacidade de sustentar uma festividade.
Na Bahia temos o axé; em Pernambuco frevo e maracatu; no Rio e em São Paulo o samba e a marcinha. Para usar o clichê, é tênue a linha que separa a tradição da inovação (ao menos no conceito artístico) - a minha indignação é com relação à imposição. Ora, já se toca por aí tanta música “sertaneja” imposta pela mídia e nós ainda vamos perder um dia de carnaval ouvindo os mesmos hits sertanejos em ritmo de axé, marchinha ou sei lá o que?! Se a DITADURA DA MÍDIA impuser ouviremos valsa no rodeio, pode ter certeza que sim.
Então me pergunto: Porque o carnaval está sendo discutido na Fundação Cultural? Acredito que é por causa da competência que a Fundação tem mostrado na organização e realização de seus eventos desde 2005, resultado de um processo democrático que rege a instituição e permite a todos manifestar a sua opinião e debater suas idéias. A Fundação Cultural deve primar pela diversidade, como você muito bem explicou há momento para tudo. Carnaval não é o momento de ouvir música sertaneja, nem em ritmo de axé. Será que as pessoas não percebem o empobrecimento cultural que isso representa. Atrevo-me a dizer que se assim procedermos em pouco tempo poderemos perder palavras de nosso vocabulário incorporadas pelo nosso carnaval como folia, colombina e pierrô. É provável que se mais alguém além de você estiver lendo este texto talvez já esteja considerando a discussão demasiadamente ideológica, mas repito a sua afirmação: O que Paraibuna é? Que Paraibuna queremos? Qual carnaval queremos para Paraibuna?
Paraibuna passou um bom tempo querendo ser São José dos Campos, depois São Luiz do Paraitinga e Jambeiro, porém essa já é outra discussão.
Quem sabe, se dermos sorte, algo acontece dia 21 de dezembro e o mar sobe a serra, aí teremos praia e poderemos tentar ser Caraguá, Ubatuba ou São Sebastião.

Rogério Faria disse...

Rafael,

Realmente já estamos atrasados para começar esse debate. Mas devemos fazê-lo. Juntos, com erros e acertos, poderemos criar algo original, um carnaval tipicamente paraibunense. A Fundação Cultural, por permitir a participação de qualquer cidadão interessado no debate, é o local adequado para isso.

Obrigado por participar.

Abraço.

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