terça-feira, 9 de julho de 2013

A equação do levante



O levante de junho ficou caracterizado pela presença maciça da classe média nas ruas por todo o país, em meio a representantes de vários estamentos sociais. Com demandas difusas, algumas legítimas, as bandeiras iam do combate à corrupção à melhoria dos serviços públicos. Também havia coisas lamentavelmente ridículas como o pleito pela volta dos militares ao poder.

O que levou essa massa cheirosa à rua é uma conjunção de motivos. Todo o mundo tem a sua teoria, aí vai a minha. São três as razões:

1 – O ódio midiático

Primeiramente, desde que Lula subiu ao poder, os principais grupos de mídia no Brasil (Globo, Abril, Folha e Estadão) vem bombardeando a população com moralismos rasos e teses apocalípticas. Daí a criar cenas ridículas como a ficha falsa de Dilma na Folha, o escândalo da bolinha de papel na Globo, o “super-herói” Demóstenes Torres na Veja e as declarações “bombásticas” do Marcos Valério na primeira página do Estadão.

Assim, para essa classe média, consumidora dessas mídias, o país esta um caos. Desconhecem ou fazem vistas grossas à redução da desigualdade social, exemplo para o mundo, ou mesmo aos indicadores econômicos –melhores que os deixados por FHC.

A coisa é tão grave que numa escola particular das mais renomadas, e cara, aqui da região, crianças de oito anos vão interpretar Lula e Dilma numa peça satírica na qual ambos são dois patetas corruptos.

2 – A oposição medíocre

Bem, a esse caos, junta-se a mediocridade da oposição. O país “estaria cada vez pior”, mas eles não conseguem dar uma alternativa. Não conseguem debater dentro do campo democrático, dentro das regras do jogo.

Assim, a classe média acredita viver no pior dos mundos e não tem quem a represente dentro do campo político, que seja capaz de mudar essa situação. Quem não consegue jogar dentro das regras, quer novas regras. Daí defenderem impeachment, prisões sem processos e outras idiotices do gênero.

Isso é culpa de uma oposição sem proposta, sem projeto.

3 – MPL e redes sociais

E, por fim, o MPL e as redes sociais. O movimento passe livre em São Paulo, e por todo o país, levou jovens de classe média para se manifestar nos centros da cidade. Quando a PM paulista agiu daquela forma absurda na primeira semana da manifestação, as redes sociais possibilitaram a divulgação imediata e em massa. Foi o estopim. A comoção nacional foi geral, a classe média que já vivia em ponto de ebulição, pelo ambiente criado conforme itens 1 e 2, explodiu e, por meio da rede, conseguiu se organizar rapidamente e agir no calor do momento. De qualquer forma, se não fosse agora, seria em algum momento do futuro.

Esta é a equação: ódio + impotência + oportunidade = reação.


Agora estamos vendo outros setores aproveitando a oportunidade do momento para também manifestarem suas insatisfações e ambições. Se essas demandas não conseguirem ser canalizadas para soluções democráticas, inclusive visando à melhora das próprias instituições, os resultados podem ser desastrosos, como já vimos.

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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Dilma saiu das cordas

Na semana mais crítica das manifestações, um colega de trabalho me contou que o filho dele, um jovem, pediu-lhe para participar do protesto que haveria no dia seguinte. A mãe, preocupada questionou-o perguntado por que queria participar das manifestações. A resposta: “Ah, mãe... Porque eu também quero ser protestante...”

No dia seguinte, eu recebia a notícia que um grupo de dez jovens, que acabaram de se conhecer, se reuniram logo pela manhã em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo do Estado de São Paulo. Estavam ali para protestar. Quando questionados sobre os objetivos do ato, declararam que ainda não tinham pensado em nada. Iriam montar uma pauta de reivindicações para apresentar ao Governador.

Esses dois fatos ilustraram muito bem o que estava ocorrendo. Uma insatisfação muito grande da classe média com as condições da saúde, educação, serviço público em geral, falta de representatividade política. A esse quadro, alimentado pela própria inércia desse estrato social, somou-se a despolitização da sociedade, que, incapaz de participar do debate político, explodiu nas ruas.

Assim, o que começou como um protesto contra a mobilidade urbana, tornou-se uma manifestação nacional contra “tudo o que está aí”. O grande risco estava na falta de uma pauta clara de reivindicação  A saúde, a educação, não vão melhorar da noite pro dia. A corrupção não acaba por decreto. Assim, eles sabiam o que não queriam, mas não o que e como queriam.

Alguém tinha que traduzir o que eles estavam querendo e nem mesmo sabiam. Surge o risco dos oportunistas, “caçadores de marajá” e outros que tais. A direita poderia ter se aproveitado e oferecido a pauta propositiva, dentro da sua ideologia, e conduzido os ideais da nação neste momento. Porém, esta oposição que está aí, sofre de uma mediocridade geral (o que é triste, e sempre perigoso, para o debate democrático).

Dessa forma, Dilma saiu das cordas, criou os cinco pactos e recuperou o protagonismo do debate. Para Manuel Castells, sociólogo espanhol especialista em movimentos sociais nascidos na internet, “Dilma é a primeira líder mundial a ouvir as ruas”. Para o espanhol, a Dilma “mostrou que é uma verdadeira democrata, mas ela está sendo esfaqueada pelas costas por políticos tradicionais. As declarações de José Serra (o ex-governador tucano criticou as iniciativas anunciadas pela presidenta) são típicas de falta de prestação de contas dos políticos e da incompreensão deles sobre o direito das pessoas de decidir”. Leiam a entrevista na Istoé.

A mídia e a oposição voltaram para a defensiva. Estão nas cordas novamente. FHC e Estadão já defenderam a constituinte exclusiva, quando a Dilma ficou a favor, viraram contra. Dilma fala em plebiscito, eles preferem referendo. Ela fala “preto”, eles falam “branco”. Há muito, a oposição, com apoio da mídia, tornou-se apenas reativa,  indo a reboque das ações do governo. Aguardam o pronunciamento da presidenta apenas para saberem sobre o que serão contra.


Isso tudo não quer dizer que o governo teve ou terá sucesso na condução da crise. É cedo pra saber. O resultado positivo vai depender da continuidade da participação popular no debate político.

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