sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Remissão


Luis Fernando Verissimo - O Estado de S.Paulo

Uma única catedral gótica ou uma única cantata de Bach redimem a religião de todos os seus males. Ou não. Você pode atribuir a beleza da igreja e da música à devoção religiosa e perdoar as barbaridades que a mesma devoção inspirou através da história, ou concluir que uma coisa não determinou a outra - Bach seria Bach mesmo sem a devoção - e apenas se admirar que tenham sido simultâneas. Escolha: a arte religiosa se nutriu da violenta história do cristianismo ou floresceu apesar dos seus conflitos, para compensar a violência? Pode-se até imaginar uma tabela de remissões. Quantos anos de obscurantismo e fanatismo da Igreja são absolvidos pela Pietá do Michelangelo, por exemplo? Só o Réquiem do Mozart basta para desculpar a Inquisição?

Íntegra.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ninguém quer ver você



Não há público em Paraibuna para artes, qualquer tipo. Mas há gerações perdidas dentro dessa perspectiva. A Fundação Cultural, juntamente com outras iniciativas da sociedade, como as promovidas pelo "Coletivo Maiêutica", há tempos vem se deparando com esse obstáculo. Os eventos para apresentar trabalho de artistas locais ou com o intuito de disponibilizar determinada arte, como cinema, estão sempre vazios. Ou frequentados pelos mesmos três ou quatro "gatos pingados".

É ilusão inclusive acreditar que a arte da música tem público. O que tem público é a cerveja. Num evento como o "Monsters of Roça" poucos apreciam as bandas, estão mais preocupados com a bebida quente. Se cortar o álcool das apresentações musicais, até esses eventos se tornarão carentes. Se cortar a cerveja do carnaval, nenhum bloco sairá nas ruas. Ninguém está lá pela arte.

Nada contra beber e se divertir. O problema é que temos de confrontar lazer, também um direito, com cultura. E se quisermos discutir política cultural, temos que refletir sobre isso: formação de público. Caso contrário, o trabalho de músicos, ou artistas em geral, nunca será devidamente apreciado e se esgotará naquele evento e na satisfação do indivíduo-artista.

Talentos nessa cidade existem, mas quem quer ver? Esse é o objetivo fundamental da Fundação Cultural: formação de público e artistas. Esse trabalho somente alcançará os jovens, crianças e adolescentes. Pra cima disso, são gerações perdidas. Um amigo já me disse uma vez sobre um grande evento da Fundação: “A gente vive reclamando de que nessa cidade não tem nada, mas quando tem a gente não vai ver”. É a falta de formação.

Um show, uma exposição, um evento, acaba servindo mais para suprir a necessidade do artista se expor do que para se estabelecer um contato com o outro. A discussão de política cultural não se esgota na organização de eventos, pois não se esgota no artista. Política cultural volta-se para um diálogo entre artista e público, para que a arte se propague e se desenvolva, assim como o ser humano. Lazer não é política cultural.

Assim, a Fundação Cultural, como já vem fazendo, tem que continuar focando na formação da criança e adolescente, com sua estrutura, oficinas e cursos. Os demais setores da sociedade, que querem contribuir com a cultura, têm que refletir sobre a formação do público. E os músicos, principalmente, têm de perder a ilusão de que estão ali levando cultura para um público ávido pela arte.

Para descontrair

Daí, surgiram algumas ideias.

1) Bebendo dos Clássicos
Leitura conjunta de clássicos da literatura brasileira, degustando clássicos da cachaçaria nacional.

2) Hitchcock embriagado
Assistiríamos um clássico do mestre do suspense com uísque liberado.

3) Imagens tortas
Uma cervejada de aquecimento antes de uma exposição de fotos antigas da cidade.

4) Balé Vostok
Apresentação de dança regada a vodka de quinta categoria importada do mercadinho.

O que mais?

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