sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Bolsonaro é a violência contra a mulher



A eleição de Bolsonaro seria uma violência contra a mulher, contra você, contra sua esposa, sua filha, irmã, mãe. Numa pergunta exatamente sobre isso, violência, ele acabou de afirmar nesta semana que vai acabar com esse coitadismo das mulheres. Não tem que ter uma política específica para elas (Exame, 23/10/2018)[1].

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Mas as estatísticas são assustadoras. O Brasil registrou um estupro a cada 11 minutos em 2015. Estima-se que isso seja 10% dos casos reais. O que seria um estupro por minuto! E 70% são crianças e adolescentes. Só 15,7% dos acusados são presos. Mais de 500 mulheres são agredidas por hora no país (EBC, 8/3/2017)[2]. Em 2013, 13 mulheres morreram todos os dias vítimas de feminicídio, isto é, assassinato em função de seu gênero (Estadão, 7/9/2017)[3].
Assim, é revelador que uma das três condenações de Bolsonaro na Justiça seja por incitação ao estupro (EBC, 16/11/2017)[4].
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) condenou Bolsonaro por ter dito, em 2014, que Maria do Rosário não mereceria ser estuprada por ser “muito feia”, não fazendo seu “tipo”.
O presidenciável, segundo o Jornal do Brasil, também já bateu em mulher: “Jair Bolsonaro esmurrou Conceição Aparecida, pelas costas, após uma discussão entre cabos eleitorais e cidadão que passavam pela atividade de campanha”. Bolsonaro confessou a violência (Jornalistas Livres, 21/10/2018)[5].
Ele ainda já agrediu verbalmente repórter da Rede TV em razão de uma pergunta constrangedora: "Você é uma idiota, você é uma ignorante" e "vai aprender a fazer jornalismo" (YouTube, 3/4/2014)[6].
Seu filho Eduardo Bolsonaro, o deputado federal mais votado da história, também já foi denunciado criminalmente pela ex-mulher por agressão e ameaça. Ele teria dito: “Eu acabo com sua vida” (Congresso em Foco, 14/4/2018)[7].

DESIGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES

O capitão também chega ao absurdo de defender que elas têm que ganhar menos, porque engravidam (DCM, 24/10/2018)[8]. A diferença salarial para mulheres em relação aos homens chega a quase 53% e essas profissionais ainda são minoria em cargos de gestão (G1, 7/3/2018)[9].
No último dia internacional da mulher, o candidato foi questionado se aumentaria a participação feminina em seu eventual governo. Ele fez troça: "Não é questão de gênero. Tem que botar quem dê conta do recado. Se botar as mulheres vou ter que indicar quantos afrodescendentes?" (EM, 9/3/2018)[10]
O Brasil está na 90ª posição em ranking de igualdade entre homens e mulheres (G1, 2/11/2017)[11].
Segundo o relatório Global Gender Gap Report 2017, divulgado nesta quinta-feira (2), apesar de igualdade de condições nos indicadores de saúde e educação e de "modestas melhorias" em termos de paridade econômica, as mulheres brasileiras ainda enfrentam acentuada discrepância em representatividade política, o que empurra o índice do Brasil para baixo.
Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”,  “brincou” numa palestra, sob riso da plateia (Exame, 18/9/2017)[12].

MULHER CRIA FAMÍLIA DE DESAJUSTADOS

O candidato a vice, General Mourão, também se revela em suas falas. Ao afirmar que família chefiada por mulher “torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narco-quadrilhas que afetam nosso país”, tomou umas invertidas (R7, 18/9/2018)[13]:
"É uma afronta chamar de desajustados os filhos de 11,6 milhões de mulheres que chefiam lares. Elas enfrentam sozinhas todas as dificuldades para dar um futuro a filhos e netos. É da valentia dessas mães e avós que nasce o milagre da sobrevivência de milhões de pessoas", disse Marina no Twitter.
A candidata a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PDT), senadora Kátia Abreu, afirmou que criou três filhos sozinha. "De onde saiu esse homem meu Deus do céu. Criei 3 filhos sozinha como milhares de mulheres do Brasil".

ATUAÇÃO COMO DEPUTADO

A sua atividade parlamentar também foi marcada pela atuação contra as mulheres. Ele já foi favorável à redução da licença maternidade para menos de 120 dias e da retirada da estabilidade da gestante da Constituição, de modo que fosse mais fácil fragilizar esse direito feminino (Veja, 1/8/2018)[14].
O candidato também já se gabou de ter votado contra todos os direitos das empregadas domésticas: “Fui o único deputado, nos dois turnos, que votou contra todos os direitos trabalhistas das empregadas domésticas” (Fórum, 3/10/2018)[15].

BOLSONARO E A FAMÍLIA

Declarado defensor da família, ele está no terceiro casamento, com uma esposa 25 anos mais nova. Na ação pós-divórcio do segundo casamento, ela diz que resolveu se separar por causa de “comportamento explosivo” e “desmedida agressividade”. Ele é acusado de furtar a segunda ex-mulher em valores que hoje totalizariam R$ 1,6 milhão (Gazeta Online,  28/9/2018)[16].
Enquanto isso, Haddad mantém um casamento de mais de 30 anos (Fotos Públicas, 17/9/2018)[17].

PROGRAMAS DE GOVERNO

No seu programa de governo[18] (que só tem 6 mil palavras contra 30 mil do do Hadad) mulher só aparece uma vez. Ele apenas promete combater a violência contra elas, sem detalhar medidas específicas.
O plano de Fernando Haddad[19] já é um pouco mais extenso no tema. A palavra mulher aparece 35 vezes. Entre suas diversas medidas com impactos positivos para elas, ele propõe:
·         Combater a violência contra a mulher por meio das retomadas e consolidadas as políticas implementadas pelos governos Lula e Dilma;
·         Criar Ministério de Políticas para as Mulheres, para dar força a esta pauta;
·         Aumentar o número de mulheres nos três poderes, por meio de uma reforma política;
·         Criar vagas em creches e ampliar seguro-desemprego para grávidas e mães que estão amamentando;
·         Promover isonomia salarial e incentivar produção de ciência e tecnologia;
·         Priorizar titulação para mulheres na reforma agrária; e
·         Usar políticas afirmativas para mulheres no setor de audiovisual
Os governos Lula e Dilma trouxeram várias políticas emancipadoras para mulheres como Minha Casa, Minha Vida, que dá preferência de assinatura de escritura a elas, e Bolsa-Família, que é pago para a mãe, dando-lhes independência. Afinal, são 30 milhões de lares chefiados por elas no país. Já no Governo Lula, foi criada a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, com status de ministério, de forma a dar autonomia à pasta. O governo Temer acabou com isso. Em 2006, foi aprovada a Lei da Maria da Penha, endurecendo a penas para crimes contra as mulheres, reduzindo números de assassinato em 10%. Dilma foi ainda mais rigorosa com a sanção da Lei do Feminicídio. O número de mulheres no ensino superior, cresceu exponencialmente, segundo o Censo da Educação Superior. A Rede Cegonha, criado no governo Dilma, expandiu atendimento a gestantes em todo o Brasil. Além, claro, do programa Mais Médicos, garantindo atendimento a 63 milhões de pessoas. A agricultura familiar, contou com o Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural, as linhas de crédito Pronaf Mulher e o Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais[20].

CONCLUSÃO

A sociedade precisa mudar, e discursos e posturas como de Bolsonaro não contribuem pra isso ao inferiorizar a mulher. A desigualdade entre homens e mulheres surge ainda na infância. Desde pequena, ela é vista como a responsável pelas tarefas domésticas e cuidar de filhos. Nas famílias com poucos recursos, elas têm que abandonar a escola para cuidar da casa. Quando não, ela acaba vendo como natural o fato de ter dupla jornada. Vão “trabalhar fora de dia, e à noite ainda acompanhar as tarefas escolares dos filhos, dar atenção ao marido e cuidar da administração da casa. Chega a sentir-se culpada quando não consegue dar conta de tudo. E recebe cobranças de todo lado.” (Andrea Ramal em G1, 10/3/2015)[21]
No século XXI, nem em qualquer época da história, é justo que as mulheres tenham como presidente um homem que em seus discursos e posturas evidencie o aprofundamento da opressão e da violência contra elas. Homens não podem oferecer a elas, suas mães, esposas, filhas, amigas, irmãs, um país onde elas serão subestimadas, agredidas, violadas, mortas.



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