Eduardo Rennó apresenta-se em Paraibuna em 2010 |
Eduardo Rennó é
um músico profissional paraibunense reconhecido no Vale do Paraíba e outros cantos
do país. Ele, que fundou o Grupo Rio Acima, vive da música, apresentando-se e
produzindo bandas da região.
Dia desses
estávamos conversando sobre o debate na cidade em relação ao carnaval - Leia mais em Falta rumo ao carnaval paraibunense. Ele acha
importantíssimo que a cidade comece a debater o seu carnaval e sua identidade.
Nas palavras dele, não devemos copiar São Luís do Paraitinga, mas aprender com
a experiência de organização da cidade das marchinhas, convidando gente de lá,
como o Benito Juca Telles, para uma palestra.
Então,
resolvemos efetivar a entrevista que você lê abaixo.
Solilóquio Insipiente: Eduardo, o que você acha do atual
carnaval de Paraibuna?
Eduardo Rennó: Assim
como o carnaval de quase todo o país, o nosso carnaval sofre influência da
mídia e da indústria de entretenimento. Antigamente era o carnaval carioca, as
pessoas montavam escolas de samba e frequentavam o baile de carnaval com blocos
de salão ao som marchinhas de salão, samba e frevo. Hoje é o axé da Bahia, que
em muitos casos, também por ser um carnaval de massa, absorve vários gêneros
musicais da moda (sertanejo, por exemplo, funk etc., devido, cada vez mais, à
perda de qualidade da produção cultural do país e menor senso crítico da
população), mas como eles tem o Axé como produto principal, eles (a indústria e
os artistas que fazem parte dela) os tem como carro chefe. Mas, nos últimos
anos, o carnaval de Paraibuna vem se desenvolvendo e buscando novos caminhos
com a criação de um número cada vez maior de blocos de rua, e aumentando a
participação das pessoas e o período do dia, pois anteriormente era só o
período do baile noturno e das matinês. Conclusão ele melhorou muito.
SI: Você acha que São Luís do Paraitinga é
referência para Paraibuna?
ER: O Carnaval de
São Luiz do Paraitinga é exemplo em organização e autenticidade não só para
Paraibuna, mas para o país e para o mundo, pois está fazendo 30 anos que eles
identificaram e formataram um carnaval de blocos com músicas próprias. No início,
com marchinhas carnavalescas por influência do Rio de Janeiro, mas depois de
algum tempo transformaram numa música autêntica, com elementos de mistura de banda
de coreto e folclore da região. Como eu trabalho e conheço a cidade, os músicos
e compositores, digo com convicção São Luiz do Paraitinga não chegou aonde
chegou por acaso, eles sabem e fazem um trabalho com extrema qualidade.
SI: Mas de que forma eles podem ser
referência para nós?
ER: Sabendo da
experiência de São Luiz do Paraitinga, que se transformou num dos maiores do país,
neste ano de 2012 eu toquei lá com a Banda "Quar de Mata”, da qual fui o
produtor do CD "Deu na Creca", podemos pensar em encontrar também a
nossa forma de fazer carnaval, mas pra que ele dê certo será preciso ter alguns
elementos da experiência de lá. Tipo de música própria, formato de bloco
próprio, temas etc.. Neste ano de 2012, eles fecharam com 180.000 visitantes
durante os 5 dias, o cidadão que alugou sua casa ganhou no mínimo R$ 12.000,00,
cada comerciante no mínimo uns R$ 15.000,00 ao dia, perto de R$ 60.000,00 no
período. O carnaval que se assemelha ao de São Luiz, mas não chega nem perto, é
o de Ouro Preto que também tem muitos visitantes, mas sem identidade... tocam
axé music e sertanejo e funk certamente. Em São Luiz do Paraitinga desses 30
anos, uns 20 anos pelo menos a cidade toda abraçou a causa, existem umas 10
Bandas de marchinha de altíssima qualidade, com CD gravado e produção impecável
(figurino etc.), cada uma com uns 12 músicos e uns 30 blocos gigantescos. O
Juca Telles arrasta 10.000 pessoas no sábado ao meio dia, o do Barbosa é mais
ou menos isso também.
SI: Poderíamos dizer que o carnaval tem
várias facetas? Uma cultural, mais para o cidadão paraibunense, outra
turística, para o consumidor externo?
ER: Olha...
carnaval bom só tem "uma" faceta, onde todos ganham, a cidade ganha
dinheiro, e o povo se diverte junto. Sendo um carnaval autêntico, os visitantes
trarão recursos pra cidade, mas temos que atrair pessoas de bom nível
econômico, social e cultural, visando à família, pois senão é só sujeira,
drogas, poluição sonora, brigas e prejuízo pra cidade.
SI: Pra você, qual a identidade de
Paraibuna? Somos um chão caipira?
ER: Creio que ainda
não encontramos a nossa verdadeira identidade, a cidade tem a cultura caipira
como formação, mas com a construção da represa, êxodo rural e as milhares de
pessoas de todo Brasil que vieram trabalhar na obra acabaram interferindo na
nossa identidade. Acho que estamos um pouco perdidos ainda, beira de asfalto,
muito próximo a São José dos Campos, que também sofre esse estigma. Penso que
ainda estamos por identificar.
SI: Como combinar o lazer (axé, sertanejo e
outros gêneros que tradicionalmente não são nossos) com uma festa que espelhe a
identidade paraibunense?
ER: Como
conciliar seria... Mas esse processo é o mais complicado e o que deveríamos
começar a fazer, incentivando os músicos, trabalhando com a sua formação,
incentivando-o ao estudo, buscando a nossa identidade, "criando" músicas,
formando os blocos, onde todos participem.
SI: Como os artistas paraibunenses podem
contribuir para o carnaval?
ER: Como eu
disse, o artista paraibunense tem papel fundamental para esse desenvolvimento,
pois serão eles que darão alma ao carnaval, criarão e, incentivados, irão fazer
com amor e garra.
SI: Como a sociedade paraibunense pode contribuir para
esse debate?
ER: A sociedade
tem de entrar no debate e o resultado será o espelho dela. Se for incentivado o
bom, a criatividade, ela vai colher frutos, se não debater e se responsabilizar,
vamos continuar a ver o exemplo do carnaval e da piaboia do ano passado, quando
se atraem pessoas do mais baixo nível e a própria sociedade é quem paga a conta.
SI: Qual o papel do Poder Público? Como
incentivar a arte local?
ER: O carnaval é
uma manifestação popular do calendário religioso, com o passar do tempo, as
autoridades tomaram atitudes para normatizá-lo. Se o bom carnaval deve
acontecer então o poder público deve colaborar na organização e incentivar os
músicos e artistas, para que todos ganhem, mas carnaval deve ser feito pelo
povo, montando blocos saindo o dia todo... O poder público no máximo deve
ajudar a ordenar, junto com a própria população, na elaboração dos horários,
mas o melhor carnaval é quando não tem interferência do poder público, o povo
faz os blocos e saem espontaneamente na hora que der vontade... confecciona fantasia,
faz a sua crítica social ou política sem rabo preso... assim é a cultura
popular.
SI: Você vai pular o carnaval em Paraibuna
em 2013?
ER: Não sei dizer
se irei estar na cidade, pois parte da semana passo em São José dos Campos e
parte no bairro da grama. Como sou músico, geralmente eu toco. Também tenho uma
produtora artística, e produzo CDs, além de dirigir o Grupo Piraquara, da
Fundação Cultural Cassiano Ricardo, onde também temos o Pirô-Piraquara, bloco
que abre o Carnaval de São José dos Campos. Mas se eu puder contribuir irei
sim, certamente vou comer uma pamonha durante o período.
Um abraço a todos e
parabéns pelo debate para um bom carnaval e com nível.
E que toda a cidade
cresça socialmente e economicamente.
Fiquem com Deus.
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