quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Para Eduardo Rennó, o carnaval de Paraibuna tem que achar sua identidade

Eduardo Rennó apresenta-se em Paraibuna em 2010

Eduardo Rennó é um músico profissional paraibunense reconhecido no Vale do Paraíba e outros cantos do país. Ele, que fundou o Grupo Rio Acima, vive da música, apresentando-se e produzindo bandas da região.

Dia desses estávamos conversando sobre o debate na cidade em relação ao carnaval - Leia mais  em Falta rumo ao carnaval paraibunense. Ele acha importantíssimo que a cidade comece a debater o seu carnaval e sua identidade. Nas palavras dele, não devemos copiar São Luís do Paraitinga, mas aprender com a experiência de organização da cidade das marchinhas, convidando gente de lá, como o Benito Juca Telles, para uma palestra.

Então, resolvemos efetivar a entrevista que você lê abaixo.

Solilóquio Insipiente: Eduardo, o que você acha do atual carnaval de Paraibuna?
Eduardo Rennó: Assim como o carnaval de quase todo o país, o nosso carnaval sofre influência da mídia e da indústria de entretenimento. Antigamente era o carnaval carioca, as pessoas montavam escolas de samba e frequentavam o baile de carnaval com blocos de salão ao som marchinhas de salão, samba e frevo. Hoje é o axé da Bahia, que em muitos casos, também por ser um carnaval de massa, absorve vários gêneros musicais da moda (sertanejo, por exemplo, funk etc., devido, cada vez mais, à perda de qualidade da produção cultural do país e menor senso crítico da população), mas como eles tem o Axé como produto principal, eles (a indústria e os artistas que fazem parte dela) os tem como carro chefe. Mas, nos últimos anos, o carnaval de Paraibuna vem se desenvolvendo e buscando novos caminhos com a criação de um número cada vez maior de blocos de rua, e aumentando a participação das pessoas e o período do dia, pois anteriormente era só o período do baile noturno e das matinês. Conclusão ele melhorou muito.

SI: Você acha que São Luís do Paraitinga é referência para Paraibuna?
ER: O Carnaval de São Luiz do Paraitinga é exemplo em organização e autenticidade não só para Paraibuna, mas para o país e para o mundo, pois está fazendo 30 anos que eles identificaram e formataram um carnaval de blocos com músicas próprias. No início, com marchinhas carnavalescas por influência do Rio de Janeiro, mas depois de algum tempo transformaram numa música autêntica, com elementos de mistura de banda de coreto e folclore da região. Como eu trabalho e conheço a cidade, os músicos e compositores, digo com convicção São Luiz do Paraitinga não chegou aonde chegou por acaso, eles sabem e fazem um trabalho com extrema qualidade.

SI: Mas de que forma eles podem ser referência para nós?
ER: Sabendo da experiência de São Luiz do Paraitinga, que se transformou num dos maiores do país, neste ano de 2012 eu toquei lá com a Banda "Quar de Mata”, da qual fui o produtor do CD "Deu na Creca", podemos pensar em encontrar também a nossa forma de fazer carnaval, mas pra que ele dê certo será preciso ter alguns elementos da experiência de lá. Tipo de música própria, formato de bloco próprio, temas etc.. Neste ano de 2012, eles fecharam com 180.000 visitantes durante os 5 dias, o cidadão que alugou sua casa ganhou no mínimo R$ 12.000,00, cada comerciante no mínimo uns R$ 15.000,00 ao dia, perto de R$ 60.000,00 no período. O carnaval que se assemelha ao de São Luiz, mas não chega nem perto, é o de Ouro Preto que também tem muitos visitantes, mas sem identidade... tocam axé music e sertanejo e funk certamente. Em São Luiz do Paraitinga desses 30 anos, uns 20 anos pelo menos a cidade toda abraçou a causa, existem umas 10 Bandas de marchinha de altíssima qualidade, com CD gravado e produção impecável (figurino etc.), cada uma com uns 12 músicos e uns 30 blocos gigantescos. O Juca Telles arrasta 10.000 pessoas no sábado ao meio dia, o do Barbosa é mais ou menos isso também.

SI: Poderíamos dizer que o carnaval tem várias facetas? Uma cultural, mais para o cidadão paraibunense, outra turística, para o consumidor externo?
ER: Olha... carnaval bom só tem "uma" faceta, onde todos ganham, a cidade ganha dinheiro, e o povo se diverte junto. Sendo um carnaval autêntico, os visitantes trarão recursos pra cidade, mas temos que atrair pessoas de bom nível econômico, social e cultural, visando à família, pois senão é só sujeira, drogas, poluição sonora, brigas e prejuízo pra cidade.

SI: Pra você, qual a identidade de Paraibuna? Somos um chão caipira?
ER: Creio que ainda não encontramos a nossa verdadeira identidade, a cidade tem a cultura caipira como formação, mas com a construção da represa, êxodo rural e as milhares de pessoas de todo Brasil que vieram trabalhar na obra acabaram interferindo na nossa identidade. Acho que estamos um pouco perdidos ainda, beira de asfalto, muito próximo a São José dos Campos, que também sofre esse estigma. Penso que ainda estamos por identificar.

SI: Como combinar o lazer (axé, sertanejo e outros gêneros que tradicionalmente não são nossos) com uma festa que espelhe a identidade paraibunense?
ER: Como conciliar seria... Mas esse processo é o mais complicado e o que deveríamos começar a fazer, incentivando os músicos, trabalhando com a sua formação, incentivando-o ao estudo, buscando a nossa identidade, "criando" músicas, formando os blocos, onde todos participem.

SI: Como os artistas paraibunenses podem contribuir para o carnaval?
ER: Como eu disse, o artista paraibunense tem papel fundamental para esse desenvolvimento, pois serão eles que darão alma ao carnaval, criarão e, incentivados, irão fazer com amor e garra.

SI: Como a sociedade paraibunense pode contribuir para esse debate?
ER: A sociedade tem de entrar no debate e o resultado será o espelho dela. Se for incentivado o bom, a criatividade, ela vai colher frutos, se não debater e se responsabilizar, vamos continuar a ver o exemplo do carnaval e da piaboia do ano passado, quando se atraem pessoas do mais baixo nível e a própria sociedade é quem paga a conta.

SI: Qual o papel do Poder Público? Como incentivar a arte local?
ER: O carnaval é uma manifestação popular do calendário religioso, com o passar do tempo, as autoridades tomaram atitudes para normatizá-lo. Se o bom carnaval deve acontecer então o poder público deve colaborar na organização e incentivar os músicos e artistas, para que todos ganhem, mas carnaval deve ser feito pelo povo, montando blocos saindo o dia todo... O poder público no máximo deve ajudar a ordenar, junto com a própria população, na elaboração dos horários, mas o melhor carnaval é quando não tem interferência do poder público, o povo faz os blocos e saem espontaneamente na hora que der vontade... confecciona fantasia, faz a sua crítica social ou política sem rabo preso... assim é a cultura popular. 

SI: Você vai pular o carnaval em Paraibuna em 2013?
ER: Não sei dizer se irei estar na cidade, pois parte da semana passo em São José dos Campos e parte no bairro da grama. Como sou músico, geralmente eu toco. Também tenho uma produtora artística, e produzo CDs, além de dirigir o Grupo Piraquara, da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, onde também temos o Pirô-Piraquara, bloco que abre o Carnaval de São José dos Campos. Mas se eu puder contribuir irei sim, certamente vou comer uma pamonha durante o período.

Um abraço a todos e parabéns pelo debate para um bom carnaval e com nível.

E que toda a cidade cresça socialmente e economicamente.

Fiquem com Deus.

Visite o especial Rio Acima no portal da TV Chão Caipira

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