quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Onde se narra a jamais contada história do incrível embate travado pelo Leão-Que-Jorra-Água-Pela-Boca contra o vil Corpo-Seco e outros...

...acontecimentos dignos de nota

1. INT. SALA DOS VIOLEIROS– DIA (ANIMAÇÃO TRADICIONAL)

Numa casa na roça estão os violeiros JOAQUIM e GERALDINHO DA VIOLA, dois senhores.

JOAQUIM
O boa-noite do Joaquim.

GERALDINHO
E o boa-noite do Geraldinho da Viola.

JOAQUIM
Nós vamos cantar prá vocês a história do mais valente cavaleiro que já houve nestas paragens.

GERALDINHO
Nessa terra tem de tudo: causos de amor e de terror. E dos dois juntos.

JOAQUIM
Este causo...
(mais)

2. ABERTURA COM OS CRÉDITOS

Usar os painéis do Pablo acompanhado pela música.

O título do filme.

JOAQUIM (CONT)
... narra a jamais contada história do incrível embate travado pelo Leão-Que-Jorra-Água-Pela-Boca contra o vil Corpo-Seco e outros acontecimentos dignos de nota.

ÍNICIO DA CANTORIA:

O painel do Pablo.

JOAQUIM E GERALDINHO
(Cantam um sertanejo apresentando a Terra encantada do Peixe da Água Preta, falando da bica d’água, da porta do cemitério, da igreja, do fogado, da pamonhada, da origem indígena, da capivara.)

3. EXT. MORRO-DO-CORPO SECO – NOITE (ANIMAÇÃO COM MASSINHA)

Seu PITUCA, um senhorzinho engraçado, montado num pangaré, cavalga, apavorado, pela mata espessa.

SOM dos bichos noturnos.

Seu Pituca, no pangaré, olha assustado para todos os lados. Pula quando ouve um pio, um uivo, diferente.

O Corpo-Seco, uma espécie de morto-vivo, caminha de mãos no bolso, também assustado, olhando para todos os lados.

Seu Pituca assustado.

As pernas do Corpo-Seco caminhando entre os arbustos.

Seu Pituca.

As pernas do Corpo-Seco caminhando.

Seu Pituca vem olhando para trás, quando volta o rosto para frente, fica paralisado.

A sombra do Corpo-Seco cresce sobre ele.

Seu Pituca dá um BERRO ESTRIDENTE DE TERROR.

O Corpo-Seco também solta um BERRO ESTRIDENTE DE TERROR.

Seu Pituca galopa desesperado para um lado.

O Corpo-Seco, assustado, foge para o outro lado.

JOAQUIM E GERALDINHO
(CANTANDO – VOZ OFF)
Numa noite escura, o enamorado cavaleiro Dom Pituca do Itapeva ia visitar sua donzela, a mais bela senhora que há no mundo. Destemido, resolveu pegar um atalho, e não se fez de rogado, cruzou o Morro-do-Corpo-Seco. Um homem comum não teria tamanha ousadia. Lá é a morada do terrível Corpo-Seco, criatura tão vil que foi recusada pelo céu e pelo inferno, e vaga morto-vivo pela Terra. Terrível acaso. Naquela noite, Dom Pituca encontrou o horripilante monstro. Sem hesitar, enfrentou a assombração, e escapou ileso.

4. INT. COZINHA DA GRAZILÉIA– NOITE (ANIMAÇÃO COM MASSINHA)

Uma cozinha simples de uma casa na roça.

Seu Pituca vasculha os bolsos.

Seu Pituca suspira e fica cabisbaixo.

Seu Pituca, cabisbaixo, em frente à GRAZILÉIA, uma senhorinha feia e engraçada como ele.

JOAQUIM E GERALDINHO
(CANTANDO – VOZ OFF)
Mas o destino prega cada peça! No embate com a terrível criatura, Dom Pituca perdera o anel de noivado que entregaria à sua digníssima senhora Graziléia do Espírito Santo. A donzela apaixonada, como prova de amor, desafiou Dom Pituca a subir o Morro do Corpo-Seco e recuperar a jóia em posse do monstro. Valentemente Dom Pituca foi enfrentar sua sina.

FIM DA CANTORIA

GRAZILÉIA
(com desdém)
Sem presente eu não dou namoradinha com ninguém, não! Vai ter que ir lá buscar!

SEU PITUCA
(cabisbaixo)
Ai minha nossa senhora!

5. EXT. BICA D’ÁGUA – DIA (ANIMAÇÃO COM MASSINHA)

INÍCIO DA CANTORIA

Seu Pituca, na bica, abandonada e sem água, conversa com o leão.

JOAQUIM E GERALDINHO
(CANTANDO – VOZ OFF)
Dom Pituca, inteligente, sabia que enfrentar o Corpo-Seco sozinho era uma tarefa hercúlea. Previdentemente, foi solicitar ajuda a uma das mais intrépidas figuras da região do peixe da água preta, o Leão-Que-Jorra-Água–Pela-Boca, habitante da bela e encantada Bica D’Água.

FIM DA CANTORIA

SEU PITUCA
O senhor precisa me ajudar, seu Leão. Pelamordedeus!

LEÃO
(tossindo)
Enfrentar o Corpo-Seco?!Tá loco!? Já não mais ostento a imponência de antes. Olhe em volta! (mais)

Uma geral na Bica D’Água abandonada.

LEÃO (CONT)
Está tudo abandonado. A minha garganta secou, já não mais sou aquele que jorra água pela boca.

SEU PITUCA
É só o senhor rosnar. Quando ele se assustar e sair, eu entro e procuro o anel!

INÍCIO DA CANTORIA

JOAQUIM E GERALDINHO
(CANTANDO – VOZ OFF)
O Leão, majestoso, destemido, e de bom coração, aceitou a missão. Junto se embrenharia na mata com Dom Pituca e recuperariam a jóia perdida da sem-par Graziléia do Espírito Santo.

Seu Pituca e o Leão saindo da bica.

6. EXT. MORRO DO CORPO-SECO – NOITE (ANIMAÇÃO COM MASSINHA)

O leão caminhando cuidadosamente pela mata.

Ele pára e tira uns arbustos da frente.

Numa clareira, o Corpo-Seco tricotando.

Em outro canto, Seu Pituca caminhando pela mata.

Ele pára, abre a mata e vê o Corpo-Seco, na mesma tarefa, por outro ângulo.

O leão dá uns socos no próprio peito, se preparando.

JOAQUIM E GERALDINHO
(CANTANDO – VOZ OFF)
Os dois se embrenharam na mata. Cada um se pôs a posto. De onde estavam podiam avistar o mais terrível demônio do céu e da terra, fazendo coisas indizíveis, capazes de aterrorizar os mais valentes cavaleiros.

FIM DA CANTORIA

Ele ROSNA, em seguida, para e TOSSE.

Novamente ROSNA e volta a TOSSIR.

O Corpo-Seco olha na direção, intrigado.

Seu Pituca, também, se levanta e olha intrigado.

Seu Pituca abre a mata à frente e o corpo-seco não está mais lá.

Seu Pituca fecha os olhos e faz o sinal-da-cruz.

Então, bate com a mão no bolso da camisa.

Enfia a mão lá dentro.

Tira o anel.

Sorri.

Olha em volta.

E foge.

O leão ROSNA e volta TOSSIR.

O leão tem um ataque de TOSSE.

Os arbustos se movem na frente dele.

O leão fica paralisado de terror.

O Corpo-Seco aparece oferecendo-lhe uma caneca.

CORPO-SECO
Quer um chazinho de mel com guaco?

O leão dá um BERRO ESTRIDENTE.

7. INT. COZINHA DA GRAZILÉIA – DIA (ANIMAÇÃO COM MASSINHA)

INÍCIO DA CANTORIA

A mão de Dom Pituca colocando o anel no dedo de Graziléia.

Graziléia dando um beijo em Dom Pituca.

Os dois se abraçando.

Por eles passa um RAPAZ, carregando as roupas na mão, vindo de dentro da casa.

JOAQUIM E GERALDINHO
(CANTANDO – VOZ OFF)
Assim, Dom Pituca entregou para a sua amada a prova de seu bem querer e nobre valor. Juntos, então, o casal de enamorados selou o amor que será contado e cantado pelos séculos vindouros!

FIM DA CANTORIA

8. INT. SALA DOS VIOLEIROS – DIA (ANIMAÇÃO TRADICIONAL)

Joaquim e Geraldinho encarando o “público”.

GERALDINHO
(para o público)
Acabou. Pode ir embora.


Fim

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Ratzinger fala sobre o Inferno

"E agora confesso: trata-se de um texto magistral, na forma e no conteúdo. Tese central: o Inferno é a solidão. O homem teme a morte porque ela é o momento extremo da vida, aventura irremediavelmente solitária. Até na cruz, o próprio Jesus desce ao Hades, aos Ínferos, com seu grito de morte: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”.

Leia na íntegra.

Por Mino Carta em Blog do Mino

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tati Bagunça

- Fiz três coisas que nunca tinha feito na minha vida!

Ela estava atrasada. Um dia e meio. Era terça-feira, uma hora da tarde. Mas já estavamos todos acostumados mesmo...

Seu lema era o já famoso, talvez infame, “sexos, drogas e rock n' roll”. Religiosamente, todos os dias. Estudar e trabalhar eram para as horas vagas – isso se não estivesse curtindo uma ressaca.

No feriadão, que emendou quinta a domingo, tinha viajado para São Tomé das Letras. Ela mais um amigo, da mesma escola de vida.

Meu trabalho fora devidamente colocado de lado.

Ia relatando tudo. Bebeu, fumou, deu... E bebeu outra vez, e fumou e deu de novo...

E entrou no capítulo dos causos picantes.

- Fiz três coisas que nunca tinha feito na minha vida!

- Pelamordedeus! Nem precisa me contar. Já tenho até idéia do quê você vai falar. Te conheço...

Ela riu. E não contou. Ou seja, devia ser algo do nível que eu estava imaginando mesmo.

Quanto a repor as horas atrasadas, nem pensar! Daqui a pouco, ela tinha aula de bateria. Depois, festa da turma da faculdade... Na terça-feira! Os amigos não paravam de ligar. Amanhã cedo, que não contássemos com ela.

Na sexta seguinte, viajava de novo, tinha mais "coisas-que-nunca-tinha-feito-na-minha-vida" para fazer.

Há meses que não a vejo e não ouço aquelas histórias de corar até os nada puritanos.

Com seus 23 anos, a vida estava no começo. Excelente faculdade, bom emprego, morando sozinha em São Paulo. Apesar disso, não planejava o futuro. Ele viria, de qualquer jeito.

Não veio. Sem nenhum alarde, no fim-de-semana, ela se jogou da janela do décimo segundo andar. Nada é fácil de entender. Faculdade, trabalho, amigos, baladas, tinha tudo. Morte besta.... Besta para quem não conhecia a história dela. Talvez, só ela conhecesse. Esta não é a história dela.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Este cheiro

É este cheiro que não consigo descrever

Sinto em seus cabelos quando a abraço

Sinto em sua boca quando a beijo

Sinto em suas mãos quando elas me acariciam

Sinto em seu sexo quando se despe

Faz quanto tempo que você não toma banho?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Marilda vai para o espaço

A Marilda, mãe de um amigo meu, costuma ser protagonista de histórias hilárias. Certa vez, em agosto de 1999, estava maravilhada depois de passar quase uma hora deitada no chão de um planetário, atração num shopping em São José. Tal era um ambiente onde constelações eram projetadas no teto, enquanto uma pessoa dava uma pequena aula de astronomia.

Pouco depois, em uma lanchonete, ela escutou uma mulher comentando que também havia achado o espaço muito bonito, que havia gostado bastante.

- É, eu também adorei – Marilda foi metendo o bedelho. – O céu é uma coisa danada de linda!

- Isso o que eu achei. – Respondeu a outra sendo simpática – Até chorei!

“Chorou!? Com astronomia?! Imagine se fosse aula de Matemática!” Pensou Marilda, intrigada, e comentou:

- Eu fiquei foi com dores nas costas.

- Por quê!?

- Ah! Por ficar tanto tempo deitada no chão, oras!

Agora, quem estava espantada era a outra:

- Ué?! Não tinha mais lugar para sentar?

- Eu nem sabia que tinha cadeira! Fiquei deitada no chão, com todo mundo!

- Mas deu para ver o filme? Perguntou a mulher achando aquela conversa muito louca.

- Filme!?

Aí que a Marilda foi perceber o tamanho do fora. A mulher não tinha nem passado perto do planetário. Ela acabara de sair do cinema, e falava do filme “Armaggedon”, no qual o Bruce Willis e uma galerinha do barulho viajam ao espaço sideral, aprontando altas confusões para impedir que um meteoro atinja o Planeta Terra.

(Revista Nascentes nº 10 - Julho de 2001 - Paraibuna-SP)

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