A eleição de Bolsonaro seria uma
violência contra a mulher, contra você, contra sua esposa, sua filha, irmã, mãe.
Numa pergunta exatamente sobre isso, violência, ele acabou de afirmar nesta
semana que vai acabar com esse
coitadismo das mulheres. Não tem que ter uma política específica para elas
(Exame, 23/10/2018)[1].
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Mas as estatísticas são
assustadoras. O Brasil registrou um estupro a cada 11 minutos em 2015.
Estima-se que isso seja 10% dos casos reais. O que seria um estupro por minuto! E 70% são crianças e adolescentes.
Só 15,7% dos acusados são presos. Mais de 500 mulheres são agredidas por hora
no país (EBC, 8/3/2017)[2].
Em 2013, 13 mulheres morreram todos os dias vítimas de feminicídio, isto é,
assassinato em função de seu gênero (Estadão, 7/9/2017)[3].
Assim, é revelador que uma das
três condenações de Bolsonaro na
Justiça seja por incitação ao estupro (EBC, 16/11/2017)[4].
O Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios (TJDFT) condenou Bolsonaro por ter dito, em 2014, que
Maria do Rosário não mereceria ser estuprada por ser “muito feia”, não fazendo
seu “tipo”.
O presidenciável, segundo o
Jornal do Brasil, também já bateu em
mulher: “Jair Bolsonaro esmurrou
Conceição Aparecida, pelas costas, após uma discussão entre cabos eleitorais e
cidadão que passavam pela atividade de campanha”. Bolsonaro confessou a violência
(Jornalistas Livres, 21/10/2018)[5].
Ele ainda já agrediu verbalmente repórter da Rede TV em razão de uma pergunta
constrangedora: "Você é uma idiota,
você é uma ignorante" e "vai
aprender a fazer jornalismo" (YouTube, 3/4/2014)[6].
Seu filho Eduardo Bolsonaro, o
deputado federal mais votado da história, também já foi denunciado
criminalmente pela ex-mulher por agressão
e ameaça. Ele teria dito: “Eu acabo
com sua vida” (Congresso em Foco, 14/4/2018)[7].
DESIGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES
O capitão também chega ao absurdo
de defender que elas têm que ganhar
menos, porque engravidam (DCM, 24/10/2018)[8].
A diferença salarial para mulheres em relação aos homens chega a quase 53% e
essas profissionais ainda são minoria em cargos de gestão (G1, 7/3/2018)[9].
No último dia internacional da
mulher, o candidato foi questionado se aumentaria a participação feminina em
seu eventual governo. Ele fez troça:
"Não é questão de gênero. Tem que
botar quem dê conta do recado. Se botar as mulheres vou ter que indicar quantos
afrodescendentes?" (EM, 9/3/2018)[10]
O Brasil está na 90ª posição em
ranking de igualdade entre homens e mulheres (G1, 2/11/2017)[11].
Segundo o relatório Global Gender
Gap Report 2017, divulgado nesta quinta-feira (2), apesar de igualdade de
condições nos indicadores de saúde e educação e de "modestas
melhorias" em termos de paridade econômica, as mulheres brasileiras ainda
enfrentam acentuada discrepância em representatividade política, o que empurra
o índice do Brasil para baixo.
“Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”,
“brincou” numa palestra, sob riso da
plateia (Exame, 18/9/2017)[12].
MULHER CRIA FAMÍLIA DE DESAJUSTADOS
O candidato a vice, General Mourão, também se revela em suas
falas. Ao afirmar que família chefiada por mulher “torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a
ingressar em narco-quadrilhas que afetam nosso país”, tomou umas invertidas
(R7, 18/9/2018)[13]:
"É uma afronta chamar de
desajustados os filhos de 11,6 milhões de mulheres que chefiam lares. Elas
enfrentam sozinhas todas as dificuldades para dar um futuro a filhos e netos. É
da valentia dessas mães e avós que nasce o milagre da sobrevivência de milhões
de pessoas", disse Marina no Twitter.
A candidata a vice-presidente na
chapa de Ciro Gomes (PDT), senadora Kátia Abreu, afirmou que criou três filhos
sozinha. "De onde saiu esse homem meu Deus do céu. Criei 3 filhos sozinha
como milhares de mulheres do Brasil".
ATUAÇÃO COMO DEPUTADO
A sua atividade parlamentar
também foi marcada pela atuação contra as mulheres. Ele já foi favorável à redução da licença maternidade para
menos de 120 dias e da retirada da estabilidade da gestante da Constituição, de
modo que fosse mais fácil fragilizar esse direito feminino (Veja, 1/8/2018)[14].
O candidato também já se gabou de ter votado contra todos os
direitos das empregadas domésticas: “Fui
o único deputado, nos dois turnos, que votou contra todos os direitos
trabalhistas das empregadas domésticas” (Fórum, 3/10/2018)[15].
BOLSONARO E A FAMÍLIA
Declarado defensor da família,
ele está no terceiro casamento, com uma esposa 25 anos mais nova. Na ação pós-divórcio
do segundo casamento, ela diz que resolveu se separar por causa de
“comportamento explosivo” e “desmedida agressividade”. Ele é acusado de furtar a segunda ex-mulher em valores
que hoje totalizariam R$ 1,6 milhão (Gazeta Online, 28/9/2018)[16].
Enquanto isso, Haddad mantém um
casamento de mais de 30 anos (Fotos
Públicas, 17/9/2018)[17].
PROGRAMAS DE GOVERNO
No seu programa de governo[18]
(que só tem 6 mil palavras contra 30 mil do do Hadad) mulher só aparece uma vez. Ele apenas promete combater a violência
contra elas, sem detalhar medidas específicas.
O plano de Fernando Haddad[19]
já é um pouco mais extenso no tema. A palavra mulher aparece 35 vezes. Entre suas diversas medidas
com impactos positivos para elas, ele propõe:
·
Combater a violência contra a mulher por meio das
retomadas e consolidadas as políticas implementadas pelos governos Lula e Dilma;
·
Criar Ministério de Políticas para as Mulheres,
para dar força a esta pauta;
·
Aumentar o número de mulheres nos três poderes, por
meio de uma reforma política;
·
Criar vagas em creches e ampliar
seguro-desemprego para grávidas e mães que estão amamentando;
·
Promover isonomia salarial e incentivar produção
de ciência e tecnologia;
·
Priorizar titulação para mulheres na reforma
agrária; e
·
Usar políticas afirmativas para mulheres no
setor de audiovisual
Os governos Lula e Dilma trouxeram várias políticas emancipadoras para
mulheres como Minha Casa, Minha Vida, que dá preferência de assinatura de
escritura a elas, e Bolsa-Família, que é pago para a mãe, dando-lhes independência.
Afinal, são 30 milhões de lares chefiados por elas no país. Já no Governo Lula,
foi criada a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, com status de
ministério, de forma a dar autonomia à pasta. O governo Temer acabou com isso. Em
2006, foi aprovada a Lei da Maria da Penha, endurecendo a penas para crimes
contra as mulheres, reduzindo números de assassinato em 10%. Dilma foi ainda
mais rigorosa com a sanção da Lei do Feminicídio. O número de mulheres no
ensino superior, cresceu exponencialmente, segundo o Censo da Educação Superior.
A Rede Cegonha, criado no governo Dilma, expandiu atendimento a gestantes em
todo o Brasil. Além, claro, do programa Mais Médicos, garantindo atendimento a
63 milhões de pessoas. A agricultura familiar, contou com o Programa Nacional
de Documentação da Trabalhadora Rural, as linhas de crédito Pronaf Mulher e o
Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais[20].
CONCLUSÃO
A sociedade precisa mudar, e
discursos e posturas como de Bolsonaro não contribuem pra isso ao inferiorizar a mulher. A desigualdade
entre homens e mulheres surge ainda na infância. Desde pequena, ela é vista
como a responsável pelas tarefas domésticas e cuidar de filhos. Nas famílias
com poucos recursos, elas têm que abandonar a escola para cuidar da casa. Quando
não, ela acaba vendo como natural o fato de ter dupla jornada. Vão “trabalhar fora de dia, e à noite ainda
acompanhar as tarefas escolares dos filhos, dar atenção ao marido e cuidar da
administração da casa. Chega a sentir-se culpada quando não consegue dar conta
de tudo. E recebe cobranças de todo lado.” (Andrea Ramal em G1, 10/3/2015)[21]
No século XXI, nem em qualquer
época da história, é justo que as mulheres tenham como presidente um homem que em
seus discursos e posturas evidencie o aprofundamento da opressão e da violência
contra elas. Homens não podem oferecer a elas, suas mães, esposas, filhas,
amigas, irmãs, um país onde elas serão subestimadas, agredidas, violadas,
mortas.