por Ricardo Kotscho - 01/07 - 17:59
Venho notando nos últimos dias um crescente frisson dos mancheteiros e nobres colunistas da nossa grande mídia com a volta do fantasma da inflação.
Desde abril, quando surgiram os primeiros sintomas de alta, a cada novo índice prevê-se o fim do mundo para amanhã mesmo, na próxima esquina.
É até engraçada esta torcida agora indisfarçada para que o pior aconteça e o governo se exploda, quando comparamos o noticiário nativo com o que se escreve lá fora sobre o Brasil. Regra geral, os mais respeitados e influentes meios de comunicação do mundo constatam que o nosso País é um dos que melhor tem enfrentado esta crise globalizada.
Quando fico muito desanimado, depois de ver os telejornais da noite e dar uma olhada nos principais jornais no café da manhã, termino sempre minha rotina informativa lendo a coluna “Toda Mídia”, publicada pelo Nelson de Sá, na “Folha”.
O contraste é brutal com o que se lê no noticiário das outras páginas do matutino paulista. Nesta terça-feira, por exemplo, Sá abre a sua coluna com o que escrevem sobre nós os dois principais jornais dos Estados Unidos:
“Roger Cohen, colunista do “New York Times” mais entusiasmado com os emergentes, Brasil em especial, voltou a escrever sobre “o mundo de ponta-cabeça”. Diz que “uma forma de ver a crise [de EUA e Europa] é como um ajuste entre as velhas estruturas de poder econômico e as emergentes”. Nos Brics, “os novos consumidores ainda vivem melhor”, as reservas estão altas e “a confiança persiste”. O “Washington Post”, em análise, também se estende sobre como “lucrar com o Quarteto Fantástico”, como chama. Diz que “o crescimento nos próximos dez anos estará nos Brics””. Brics, como sabemos, é a sigla dos emergentes Brasil, Rússia, Índia e China.
Na mesma segunda-feira, dia 30, em que foram divulgados os novos índices da pesquisa Ibope/CNI, mostrando que a popularidade do governo Lula se mantém inalterada num patamar recorde, com 58% de aprovação, agências e jornais fizeram um contorcionismo danado para destacar aspectos negativos do levantamento, omitindo o principal.
Quer dizer, ao contrário de todas as previsões dos “especialistas”, apesar da inflação ascendente, a popularidade de Lula e do seu governo não se alterou. Alguns chegaram a acrescentar “ainda”...
Ignorada na capa do jornal, a informação só vai aparecer no final do segundo parágrafo de matéria publicada na página A9. Sob a manchete “Inflação derrota todas as aplicações em junho”, o carioca “O Globo” limita-se a registrar, no final da chamada, após listar todos os indicadores negativos da economia, que “o governo mantém 58% de aprovação”.
Os dois jornais e mais o “Estadão” destacam que todas as aplicações financeiras perderam para a inflação de 6,82% registrada no primeiro semestre pelo Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M).
Até aí, tudo bem, ou melhor, tudo mal. Mas o que mais me chamou a atenção é como os índices de rentabilidade das aplicações financeiras variam de jornal para jornal, quase nenhum batendo com o publicado pelos concorrentes _ o que mais uma vez me provou que jornalismo e economia não são exatamente ciências exatas.
A febre inflacionária fez ressuscitar no noticiário até César Maia e Roberto Freire, o presidente vitalício do PPS (por onde andará, o que faz atualmente?).
Ao final de suas apocalíticas previsões, o polêmico blogueiro, que nas horas vagas é prefeito do Rio, anuncia: “O relógio está marcando tic, tac, tic, tac, tic, tac... Não se sabe se são as horas do tempo, ou da bomba”. A bomba, claro, é o estouro da inflação.
Escondida no noticiário de hoje dos grandes portais da internet, a informação que não interessa a ninguém, porque derruba todas as teses. Na “FolhaOnline”, fica-se sabendo que “Inflação semanal desacelera para 0,77% com preços de alimentos, diz FGV (...) Foi a terceira desaceleração consecutiva do índice”.
Esta certamente não será manchete de nenhum jornal de amanhã porque haverá alguma notícia negativa para destacar (fora da coluna “Toda Mídia”, claro).
Também acho difícil que ganhe destaque a informação de Lauro Jardim no online da “Veja”, dando conta de que foram vendidos 256 mil novos carros em junho, um carro a cada 10 segundos. Claro, com isso, o trânsito vai ficando cada vez pior _ e é o que vai ganhar mais espaço.
No primeiro semestre deste ano, diz a nota de Jardim, foram vendidos 1,4 milhão de carros novos, um crescimento de 30% em relação ao mesmo período de 2007. Para um País que está novamente ameaçado por uma “crise do fim do mundo” _ desta vez, a inflação _ até que não estamos tão mal.
Na fonte.
Um comentário:
Caro Rogério,
Gostaria de fazer um pequeno comentario no que tange a construção de uma politica economica diferenciada feita ao longo do governo Lula.
Os algozes da oligarquia brasileira dizem aos quatro ventos que o Lula só continuou a política econômica do FHC.
Bom vamos lá: No governo FHC nós tinhamos um cambio desvalorizado, uma taxa de juros de X e um crescimento pífio, observe-se que desta P.E. espera-se altas taxas de crescimentos; Já no Governo Lula nós tivemos uma valorização do cambio, uma diminuição das taxas de juros para um patamar de X/2 e tivemos um crescimento fraco porem, crescente; bom somente analizando a macroestrutura economica constatamos diferenças totais.
Dentro da minha humilde visão se isso não é P.E. diferente eu já não sei mais o que é ser igual!
Joel Reis.
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