Opiniões e piadas bestiais antes eram compartilhadas reservadamente, com interlocutores bem selecionados, amigos ou familiares. Contavam piada de preto, defendiam pena de morte, criticavam suposta ditadura gay, direitos humanos pra bandido e outras pérolas de preconceito, desinformação.
Porém, de um tempo prá cá, esses temas entraram sem vergonha em páginas da imprensa, como Veja. Alguns programas policialescos, há tempo, já abordavam a criminalidade de forma maniqueísta, simplista. Mas a coisa estourou. As redes sociais, o Facebook, trouxeram aquela segurança e sensação de inconsequência semelhante a que temos no trânsito para soltar impropérios. Daí, os “iguais” começaram a se encontrar. Então veio o “stand up”, e aquelas piadinhas politicamente incorretas (pra usar um eufemismo) saíram das mesas das elites e passaram pra tevê. Logo, a opinião bestial passou para o horário nobre, editoriais de jornais, e a ser compartilhada sem pudor.
É reflexo do medo de classes. A elite e a classe média tradicional morrem de medo de quem está embaixo. Tem origem no fracasso da educação, tanto em casa quanto na escola. O currículo está direcionado ao capital. A gente estuda, desde a primeira série, pra ser bem sucedido, pra ganhar dinheiro, para ser um vencedor. Assim, temos de derrotar os outros. Aí vale tudo. E qualquer tentativa de inclusão, de igualização, é vista como trapaça.
Alguém precisa conduzir o país a um processo de transformação, à correção dos rumos. Um estadista, alguma instituição religiosa, um grupo de empresários, a imprensa. Mas o primeiro está acovardado, dando cada passo com cálculos eleitorais. A segunda está mais preocupada com seus dogmas excludentes. Os empresários nacionais não têm essa capacidade de organização. A grande imprensa está na luta pelo poder e dinheiro dos patrões, acuando e acovardando todos os anteriores. Muitos cidadãos ainda lutam isolados por uma sociedade mais justa.
“Tão cegos são os homens, que chegam a gloriar-se da própria cegueira!" Santo Agostinho
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