Na semana mais
crítica das manifestações, um colega de trabalho me contou que o
filho dele, um jovem, pediu-lhe para participar do protesto que
haveria no dia seguinte. A mãe, preocupada questionou-o perguntado
por que queria participar das manifestações. A resposta: “Ah,
mãe... Porque eu também quero ser protestante...”
No dia seguinte, eu
recebia a notícia que um grupo de dez jovens, que acabaram de se
conhecer, se reuniram logo pela manhã em frente ao Palácio dos
Bandeirantes, sede do Governo do Estado de São Paulo. Estavam ali
para protestar. Quando questionados sobre os objetivos do ato,
declararam que ainda não tinham pensado em nada. Iriam montar uma
pauta de reivindicações para apresentar ao Governador.
Esses dois fatos
ilustraram muito bem o que estava ocorrendo. Uma insatisfação muito
grande da classe média com as condições da saúde, educação,
serviço público em geral, falta de representatividade política. A
esse quadro, alimentado pela própria inércia desse estrato social,
somou-se a despolitização da sociedade, que, incapaz de participar
do debate político, explodiu nas ruas.
Assim, o que começou
como um protesto contra a mobilidade urbana, tornou-se uma
manifestação nacional contra “tudo o que está aí”. O grande
risco estava na falta de uma pauta clara de reivindicação A
saúde, a educação, não vão melhorar da noite pro dia. A
corrupção não acaba por decreto. Assim, eles sabiam o que não
queriam, mas não o que e como queriam.
Alguém tinha que
traduzir o que eles estavam querendo e nem mesmo sabiam. Surge o
risco dos oportunistas, “caçadores de marajá” e outros que
tais. A direita poderia ter se aproveitado e oferecido a pauta
propositiva, dentro da sua ideologia, e conduzido os ideais da nação
neste momento. Porém, esta oposição que está aí, sofre de uma
mediocridade geral (o que é triste, e sempre perigoso, para o debate
democrático).
Dessa forma, Dilma
saiu das cordas, criou os cinco pactos e recuperou o protagonismo do
debate. Para Manuel Castells, sociólogo espanhol especialista em
movimentos sociais nascidos na internet, “Dilma
é a primeira líder mundial a ouvir as ruas”.
Para o espanhol, a Dilma “mostrou
que é uma verdadeira democrata, mas ela está sendo esfaqueada pelas
costas por políticos tradicionais. As declarações de José Serra
(o ex-governador tucano criticou as iniciativas anunciadas pela
presidenta) são típicas de falta de prestação de contas dos
políticos e da incompreensão deles sobre o direito das pessoas de
decidir”.
Leiam a entrevista na Istoé.
A mídia e a
oposição voltaram para a defensiva. Estão nas cordas novamente. FHC e Estadão já defenderam a constituinte exclusiva, quando a Dilma ficou a favor, viraram contra. Dilma fala em plebiscito, eles preferem referendo. Ela fala
“preto”, eles falam “branco”. Há muito, a oposição, com
apoio da mídia, tornou-se apenas reativa, indo a reboque das ações do governo. Aguardam o pronunciamento da presidenta apenas para saberem sobre o que serão contra.
Isso tudo não quer
dizer que o governo teve ou terá sucesso na condução da crise. É
cedo pra saber. O resultado positivo vai depender da continuidade da
participação popular no debate político.
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