sábado, 9 de agosto de 2008

O monstro de Frankenstein

A ignorância técnica da própria língua faz com que os brasileiros acabem incorporando com facilidade os modismos lingüísticos. E quem dita a moda, qualquer moda? O colonizador. Assim, chegam aqui produtos importados de altíssima qualidade, como o gerundismo e o estrangeirismo, principalmente norte-americanos

O que poderia se chamar da pior praga atual desses modismos é o gerundismo de telemarketing. A mania saiu das linhas telefônicas vindo a impregnar desde os diálogos corriqueiros até os textos que, teoricamente, deveriam ser classificados como cultos.

É incrível ver pessoas com nível superior fazendo tão péssimo uso da língua. Certas petições jurídicas surgem, às vezes, tão escassas de pontos finais e parágrafo, com uma sucessão de gerúndios, que no final o juiz não consegue entender quem está fazendo, quem está deixando de fazer, quem está querendo o quê. A peça tem quer ser traduzida e vertida para o vernáculo.

Ontem, na tevê, duas barbáries: “Policial mata um garoto fugindo”. Quem fugia, pergunto? Ninguém responde. O policial só vai estar falando na presença do advogado. O garoto, infelizmente, não pode mais estar se manifestando. Enquanto que o âncora do telejornal não vai perder tempo para estar explicando para o seu bando de “Homer Simpsons”.

Para abstrair de tanta violência, aceito um convite para um “happy-hour” (sem equivalente na língua e de difícil aportuguesamento). Respondo por e-mail, ou correio-eletrônico (mais impopular), que aceito o “chopp”, “chop” ou algo do gênero. Na verdade, preferia um chope, bem brasileiro.

Depois de driblar o horário do rush, que até vem rareando (refiro-me à expressão), fui assistir a um show (esse ficou) de “clowns”. Palhaço? Não. Alguém explica que é uma escola diferente, “clown” é um tipo de palhaço que faz graça sendo ele mesmo, sem caracterização. Acho que entendi.

São reflexos da influência das potências nos países marginalizados. O problema não está em afastar essas interferências, trabalho impossível; está, sim, na incapacidade dos agentes da língua em assimilá-las. E a última flor do Lácio torna-se mais um produto da engenharia humana: um “Frankenstein”.

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