terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Prato do dia

O roteiro para um curta-metragem de 30 minutos abaixo foi o primeiro que eu escrevi. Foi desenvolvido durante a participação em um oficina de roteiros da Educine no ano de 2003: "Workshop de roteiro 'Cidade dos Homens'". Devíamos utilizar os personagens e o cenário daquele seriado da Globo com Acerola e Laranjinha. Foi uma experiência muito bacana.


Prato do Dia

CENA 01 – SAÍDA DA ESCOLA – EXT – DIA

VÁRIOS GAROTOS saindo da escola após o término das aulas.
ACEROLA e LARANJINHA saem juntos. Laranjinha está excitado com o baile de amanhã. Acerola, mais contido, com um envelope branco novo em evidência nas mãos, está abobalhado, alheio à animação do amigo. Alterna-se entre PLANO ABERTO para Laranjinha e PLANO PRÓXIMO para Acerola.

LARANJINHA
Maluco, num via a hora de chegar sexta-feira. Amanhã o baile vai sê sinistro!

ACEROLA
Eu sou o mais responsável, hein? O mais responsável!

LARANJINHA
Aí, Acerola, vou conseguir os ingressos pra nós dois, falou? Será que a Marcinha vai?

ACEROLA
Você, viu? O mais responsável, eles falaram.

LARANJINHA
Ah, se ela vai lá, eu vou dar uns pega nela. Você vai ver só!

ACEROLA
Ela me chamou de responsável!

Laranjinha, repetidas vezes, pára, rebola um pouco, como que se cantando e corre para alcançar Acerola, que não o espera.

LARANJINHA
É... amanhã à noite o bicho vai pegar!
O bicho vai pegar!
O bicho vai pegar!

CENA 02 – BARRACO DA BOCA – EXT – NOITE

Noite na favela. À porta do barraco, XAROPE, sujeito mal-encarado, e ESPETO, dois bandidos, jogam conversa fora.

XAROPE
Vai no baile aí, hoje?

ESPETO
O que vai ter aqui? Vou nada. Esse baile aí só dá criançada. Vou num proibidão que vai ter lá pra cima.

XAROPE
Tô sabendo.

Laranjinha e MANGUINHA, um garoto da mesma idade, ambos bem vestidos para o baile de logo à noite, passam pelos dois. Manguinha os cumprimenta seguramente, Laranjinha, timidamente.
Laranjinha e Manguinha entram no barraco.

CENA 03 – BARRACO DA BOCA – INT – NOITE

Do lado esquerdo, uma mesa, sobre ela uma arma. Do lado direito, um sofá velho de alguns lugares. Ao fundo, uma poltrona bem cuidada. GAGUINHO, um gordinho de careca lisa, blusa azul e camiseta de gola vermelha aparecendo, passa e cumprimenta Manguinha e Laranjinha. CÉREBO, um idiota, passa indiferente.

LARANJINHA (Voz off)
Esse aqui é o meu amigo Manguinha. Desde que ele começou a trabalhar com a bandidagem, ganhou maior respeito na favela. Isso mais a grana que o moleque consegue.

CORUJÃO, o dono da boca, entra na sala, cumprimenta Acerola e Laranjinha, com amizade.

CORUJÃO
Aí, galera responsa!

MANGUINHA
Cumé qui tá?

Laranjinha sorri, sem dizer nada.
Corujão senta-se na poltrona, como um rei em seu trono.
Laranjinha dá um tapinha nas costas de Manguinha.

LARANJINHA
Aí, vai rápido. Falou?

Manguinha entra por uma porta, saindo da sala.
Laranjinha, pouco à vontade, senta-se no sofá.
CANECA, outro bandido, passa por ele cumprimentando-o amistosamente. Laranjinha acena.

LARANJINHA (Voz off)
Eu num mexo com essas coisas. Aí também num tenho grana. O ingresso pro baile de hoje à noite, pra mim e pro Acerola, foi o Manguinha que descolou. É, as coisas pra ele acabam ficando mais fácil.

COIOTE, bandido da idade de Corujão, entra na sala, para conversar com ele.

COIOTE
Aí, Corujão, o cara lá não pagou, não!

CORUJÃO
O Sopa?

Laranjinha, ao ouvir o nome Sopa, espanta-se e passa a prestar atenção na conversa.

COIOTE
Então, o figura encomendou comigo uma droga diferente, tinha que pagar até ontem, mas furou.

CORUJÃO
Quanto é que é, Coiote?

COIOTE
Setenta reais, pô! Esse mané tá sempre enrolando!

CORUJÃO (fria e pausadamente)
Mata-o-merda!

Coiote respira fundo, se vira, olha em volta, vê a arma sobre a mesa, vem em sua direção, pega-a e sai do barraco.

CENA 04 – BARRACO DA BOCA – EXT – NOITE

Frente do barraco. Apenas Xarope ainda está lá, indiferente.
Coiote, imponente, sai, braços caídos, arma na mão direita. Olha para os dois lados e segue para a sua direita.

CENA 05 – BARRACO DA BOCA – INT – NOITE

PLANO PRÓXIMO do rosto de Laranjinha, espantado.

LARANJINHA (voz off)
O merda é primo do Acerola!

O PLANO ABRE. Laranjinha levanta-se apressadamente e sai do barraco.

CENA 06 – BARRACO DA BOCA – INT – NOITE

Laranjinha sai do barraco, ainda assustado, correndo, segue para sua esquerda.

CENA 07 – BOTECO – INT – NOITE

Acerola, com roupa normal, de trabalho, num boteco, joga sinuca com um SENHOR, um trabalhador. Na borda da mesa, duas notas de R$5,00. Entre os lances:

ACEROLA (Voz off)
Tô podre! Levo três dias diretão pra tirar cinco reais. Pelo menos eu ganhei trabalhando numa boa. E o melhor é que esse cara aí vai dobrar essa grana num joguinho só.

Laranjinha chega ofegante, tentando chamar a atenção de Acerola que se esforça para se concentrar em uma jogada.

LARANJINHA
Acerola! Acerola! Preciso falá com você, bródi!

Acerola dá uma tacada errada.

ACEROLA
Pô, Laranjinha! Você fez eu errá!

LARANJINHA
Acerola, é sério! Os caras querem seu primo!

ACEROLA
Mas tá valendo cinco real isso aqui!

Laranjinha puxa Acerola, relutante, para um canto.

LARANJINHA
Seu primo tá devendo pro Corujão. O Coiote vai matá ele. A gente precisa avisá o Sopa prá ele pagá.

ACEROLA
Cara, você me fez perdê cinco migué...!

Acerola é puxado por Laranjinha em direção à saída do boteco. Enquanto caminha, Acerola olha para o senhor que, sorrindo para ele, pega e conta o dinheiro no canto da mesa.

CENA 08 – RUA DA FAVELA – EXT – NOITE

Um RATO fuçando em restos no chão, próximo a uma poça.
Um GATO aparece de repente, num bote, enchendo a tela, abocanhando o rato.
Quando ele se vira para sair, um pé surge.
O gato espanta-se, soltando o rato e fugindo.
Mais pés.
O rato, ainda vivo, também foge.
São de Acerola e Laranjinha.

CENA 09 – BARRACO DO SOPA – EXT – NOITE

À porta do barraco do Sopa, Acerola bate, enquanto Laranjinha tenta ouvir alguma coisa.

ACEROLA
Ô, Sopa! Abre aí, meu! É o Acerola!

Espera um pouco e volta a bater e chamar.

ACEROLA
Vai, Sopa! Abre logo, parceiro! É importante!

Acerola, desanimado, olha para Laranjinha.

LARANJINHA
Tem alguém aí, sim! Acho que ouvi alguma coisa.

Acerola vira a fechadura da porta. Abre-se.
À medida que vai abrindo a porta, vamos vendo SOPA, um rapaz de 17 anos, completamente entorpecido, de joelhos, bunda para cima, peito no chão, rosto sorridente, olhando os garotos entrando. Ao seu lado, seringa, latas de cerveja, cigarros e maços evidenciam a bagunça.

CENA 10 – BARRACO DO SOPA – INT – NOITE –ANIMAÇÃO

PONTO DE VISTA de Sopa. Imagem em 270º, representando o ângulo de visão de Sopa deitado.
Tudo muito colorido e rápido. Vê-se Acerola e Laranjinha, como ratinhos “Jerry”, afobados, entrando no barraco, se aproximando de Sopa.
Acerola e Laranjinha falam confusamente, com VOZES ESTRIDENTES, algo ininteligível. Cifrões e pontos de interrogação agitam-se sobre suas cabeças.
Uma cadeira animizada surge atrás dos dois, pelos ombros dos garotos, e dá uma espiada, sai correndo.
Acerola puxa o braço de Sopa.
Laranjinha balança a cabeça de Sopa fazendo a IMAGEM BALANÇAR.
A cadeira volta com um criado-mudo, também animizado, por trás dos dois, novamente pelos ombros, aponta o Sopa para o criado curioso.
Ainda PONTO DE VISTA de Sopa. À medida que Acerola e Laranjinha levantam Sopa. O ÂNGULO MUDA de 270º para 360º, indicando a mudança do ângulo de visão de Sopa, sendo colocado sentado.
Acerola e Laranjinha continuam FALANDO confusamente. Frustram-se.
VEMOS Acerola, Laranjinha, Sopa, caricaturizado como um ratinho um pouco mais velho que os garotos, já que tem 17 anos, rosto cômico de entorpecido, e toda a sala bagunçada.
Na mesa, um bule sorri.
Um lustre balança feliz.
Acerola e Laranjinha se entreolham, agitam-se e se dividem.
Uma vitrola animizada tira um disco também animizado da embalagem, a qual sai correndo, coloca-o em si mesma. Entra: MÚSICA agitada característica, estilo “Ligeirinho”. A vitrola dança feliz, notas musicais saem dela.
Acerola e Laranjinha correm de um lado para o outro revirando tudo. Os cifrões e pontos de interrogação continuam se agitando. Cadeiras, criados, bolas, latinhas de cerveja, seringas, diversos objetos animizados também correm de um lado para o outro, caindo e se trombando. Vira uma confusão.
Acerola e Laranjinha mexem em gavetas, levantam almofadas que saem correndo, carteira no chão que tenta fugir mas é pega.
Acerola vai olhar em uma estante com gavetas e prateleiras, de repente ela se animiza e começa a correr pela sala.
Acerola e Laranjinha a perseguem. Os demais objetos pulam de excitação.
Laranjinha pula sobre ela, derrubando-a.
Enquanto ele fica sentando sobre a perna da estante, torcendo-lhe o pé, Acerola vasculha suas gavetas e prateleiras.
Não acham nada. Ficam frustrados e cansados.
Uma latinha vem correndo, dá um tapa na bunda de Laranjinha e foge rindo. Os objetos animizados ficam escondidos, se divertindo provocando os garotos.
Acerola, desanimado, caminha até a porta entreaberta e vê, no chão, a sombra assustado de um gato se aproximando.
Bate a porta com força e a tranca.
Desesperados, ele e Laranjinha correm para levantar Sopa. Os objetos novamente se agitam.
Laranjinha e Acerola arrastam Sopa até um quarto dos fundos.
A sombra demoníaca continua se aproximando.
Acerola e Laranjinha, com muito esforço, tentam empurrar Sopa pra fora da janela, sentado no batente.
A porta, num ESTRONDO, se abre com uma pancada.
Os objetos animizados se escondem atrás de outros maiores, todos tremendo de medo.
Coiote, caricaturizado como um gato estilo “Tom”, faminto, cara de mau, salivando, surge de garfo em punho.
No quarto dos fundos, Acerola, o último, salta para fora do barraco pela janela.

CENA 11 – FAVELA – EXT – NOITE – CLIPE

Acerola pisa em um rádio modelo antigo, sem toca-fitas, jogado fora. Entra: a música RAP do clipe.
Os três fogem do matador pela favela.
Sopa, embora entorpecido, corre com os garotos que, ora ou outra, têm que puxá-lo ou empurrá-lo. Em alguns momentos o matador vê Sopa, nunca Acerola e Laranjinha. Correm por várias ruas, botecos, esbarram em pessoas que se assustam e se escondem devido à arma de Coiote. Coiote perde os garotos no final do clipe.
(intervalo)

CENA 12 – ATRÁS DE UM BARRACO DA FAVELA – EXT – NOITE

Os três estão recuperando o fôlego. Laranjinha volta após olhar por uma rua lateral ao barraco.

LARANJINHA
Acho que ele foi pro outro lado.

Faz uma pausa.

LARANJINHA
Onde a gente vai conseguir o dinheiro? É muita coisa. Com seu primo nem adianta falá. Eu num tenho, você não tem!

Acerola, lentamente, tira o envelope branco dobrado do bolso de trás da calça. Com os olhos fixos nele, desdobra-o cuidadosamente.

ACEROLA (quase sem voz)
Eu tenho.

LARANJINHA
O quê!?

ACEROLA
Eu tenho o dinheiro, aqui.

LARANJINHA
Cara, é só a gente pagá o Corujão e tamos feito! Dá pra ir no baile na boa! Tem setenta aí?!

CENA 13 – SALA DE AULA – INT – DIA

Fora do horário de aula, alguns garotos estão em volta de Acerola e JOANA, garota bonita com trejeitos de moleque, líder dos garotos, nos quais desperta desejos, inclusive em Acerola. Ela está muito empolgada com a compra do uniforme novo. Todos estão suados. Joana, entre as pernas, tem uma bola de futebol. Os dois estão sentados em cadeiras postas à mesma mesa. Joana conta notas de dinheiro não superiores a R$ 5,00 esparramadas sobre a mesa.

JOANA
... sessenta e dois, sessenta e três, sessenta e oito, sessenta e nove, setenta. Certinho! Não dá prá comprá o de cento e quarenta e cinco, pelo menos, vamos ter um novo.

Todos se animam.
Joana arruma o dinheiro e coloca num envelope branco, entregando-o a Acerola, que o pega sem tirar os olhos dela.

JOANA
Aí, Acerola, tá aqui. Setenta conto. Você que vai cuidá da grana esse final de semana.

Acerola, orgulhoso de si, pega o envelope sem dizer nada, apenas acenando com a cabeça, olhando-a abobalhado.

CENA 14 – ATRÁS DE UM BARRACO DA FAVELA – EXT – NOITE

LARANJINHA
Tamo feito, é só pagar os cara e saí saindo.

ACEROLA
Num posso!

LARANJINHA
Como não?! Eles vão matar seu primo! Tu não entendeu?

Acerola levanta-se em silêncio, segura o envelope firmemente, dá alguns passos.

ACEROLA
Eles confiam em mim, mano. Eu sou o responsável. Fui escolhido.

LARANJINHA
A gente tá falando do teu primo, Acerola! Vamo resolvê essa parada. É só pagá os caras. Tem o baile ainda!

CENA 15 – SALA DE AULA – INT – DIA

Durante a aula. A sala está uma confusão, os ALUNOS discutem quem será o responsável pelo dinheiro.
Laranjinha, indiferente, paquera MARCINHA, sentada na carteira à sua frente. A PROFESSORA, irritada, bate na mesa tentando conseguir silêncio.

PROFESSORA
Silêncio, criançada! Pelo amor de Deus! Eu faço...! Eu faço essa votação.

Joana e alguns alunos ajudam a professora a conseguir silêncio.

PROFESSORA
Vamos ser rápidos. A matéria já está atrasada! É o Carlos e o Luís Cláudio, né? Vamos lá, levantem os braços quem quer que o Carlos seja responsável pelo dinheiro do time.

CARLOS, um garoto desonesto, sentado na primeira carteira, levanta os braços, confiante, e vira-se para ver poucos alunos repetindo o mesmo gesto.
A professora conta com os olhos.

PROFESSORA
E quem quer que o Luís Cláudio seja o responsável?

Quase todos levantam a mão.
Marcinha cutuca Laranjinha, o qual estava concentrado nela, ambos levantam as mãos.
Lá, com a turma do fundão, Acerola olha feliz, com o braço erguido.

PROFESSORA
Muito bem. Luís Cláudio é o responsável pelo dinheiro do uniforme do time de futebol da escola. Agora vamos continuar a aula.

No fundão, Joana e os garotos parabenizam Acerola, uma batucada tem início.
Laranjinha volta sua atenção à Marcinha.
Nova bagunça comemorando a vitória de Acerola.
A professora desanima-se.

CENA 16 – ATRÁS DE UM BARRACO DA FAVELA – EXT – NOITE

LARANJINHA
Tá. Se tu prefere vai ao enterro do teu primo com isso aí no bolso de trás.

Acerola fixa os olhos no envelope em suas mãos, lentamente levanta o rosto e se levanta.

ACEROLA
Droga... Vamo pegá ele. Vamo até a boca. Vamo pagá esse negócio. E vamo acabá com isso.

CENA 17 – BARRACO DA BOCA – EXT – NOITE

Dois bandidos, Xarope e Cérebo, que fala sem parar, sentados à porta da boca, conversam inutilidades. Xarope já não suporta mais Cérebo, exageradamente excitado.

CÉREBO
Mermão, onti eu vi um negócio na tv... Cê sabe quanto vale um dólar? Sabe?

Xarope faz, irritado, que não com a cabeça.

CÉREBO
Bem mais que um real, tá sabendo? O cara no jornal falou que o dólar vale bem mais que um real. E... pá! Na hora eu tive uma idéia. Sabe o que eu tava pensando?

Novamente, Xarope faz, irritado, que não com a cabeça.

CÉREBO
Tava pensado o seguinte... Olha só que lôco. Se eu fosse vendê droga pra você, cumé que eu ia fazê?

Xarope sacode os ombros indicando não saber.

CÉREBO (mal interpretando seus exemplos)
Eu ia falá assim: “O mané, tu qué droga? É dez real!”. Tá sabendo? Agora, se eu fô vendê pros gringo, eu falo assim, ó: “O mané, tu qué droga? É ten dólar!”. Aí, o gringo me dá dez dólar... Ten é dez em inglês ... que vale bem mais que dez real. Num é lôco? Só falta eu aprendê a falá droga em inglês. Acho que eu vi no cinema que é shit, num sei ainda.

CENA 18 – RUA DO BARRACO DA BOCA – EXT – NOITE

VEMOS Laranjinha, do lado esquerdo, Sopa, no meio, e Acerola, à direita, se aproximando.
Em seguida, PLANO SOBRE O OMBRO de Acerola, ao fundo o barraco da boca, com Xarope e Cérebo.

CENA 19 – BARRACO DA BOCA – EXT – NOITE

Xarope cutuca CÉREBO e, com o olho aponta para os garotos.

CÉREBO
É o Sopa.

Cérebo se levanta lentamente, indo com a mão em direção à cintura.

CENA 20 – RUA DO BARRACO DA BOCA – EXT – NOITE

Acerola se intriga e olha para Laranjinha. Sopa continua alheio e Laranjinha indiferente. Acerola volta os olhos para os bandidos.

ACEROLA
Laranjinha, me diz uma coisa. Os cara falaram: “Cobra o merda!” ou “Mata o merda!”?

LARANJINHA (intrigado)
Mata o merda.

ACEROLA
Tu é burro, rapá?!

CENA 21 – BARRACO DA BOCA – EXT – NOITE

ENQUANDRAMENTO de Cérebo, em pé, imponente, apontando a arma para a CÂMARA. Xarope, sentado no canto da tela:

XAROPE (indiferente)
Mata o merda.

Do ENQUANDRAMENTO de Cérebo, a CÂMARA recua rapidamente até o PONTO DE VISTA de Acerola.

CENA 22 – RUA DO BARRACO DA BOCA – EXT – NOITE

Acerola e Laranjinha se assustam, Sopa permanece alheio. Cenário e personagens CONGELAM-SE. Um GIRO de 360º em volta dos personagens.

ACEROLA (Voz off)
Se tivesse esse tempo todo, dava pra escolher o melhor caminho prá fugir. Mas as coisas não são tão simples. Não aqui. E é aí que a gente morre. Não se preocupa, a gente vai tentar não manchar teu sofá da sala.

A imagem DESCONGELA. Sob os TIROS, Laranjinha e Acerola fogem para a esquerda, puxando Sopa pelo braço.

CENA 23 – RUA SEM SAÍDA – EXT – NOITE – ANIMAÇÃO

Sopa, sentado no chão, prepara uma armadilha digna do “Coiote Coió” nos desenhos animados do “Papa-Léguas”. No alto de uma estrutura complexa de madeira, uma pedra gigantesca. Uma alavanca aciona o sistema.

CENA 24 – RUA SEM SAÍDA – EXT – NOITE

PLANO MAIS ABERTO em Sopa, na mesma posição da cena anterior. Ele mexe com gravetos e pedrinhas jogadas no chão. No muro fechando a rua, pichadas as palavras “sem saída”. Atrás de Sopa, Laranjinha em pé e Acerola sentado, envelope nas mãos.

LARANJINHA
Mano, tamo ferrado! Cumé qui a gente faz?

ACEROLA
Os cara num querem mais a grana. A gente precisa dizê que o Sopa já pagou ontem, na sexta.

LARANJINHA
Como? Nóis, eles num iam acreditá. Precisa ser alguém que eles confiem. E que a gente também.

Acerola se levanta.

ACEROLA
Eu podia falar com o seu Nelson. O cara é um autônomo que trabalha comigo lá.

CENA 25 – RUA DA CIDADE – EXT – DIA

SEU NELSON, uns 50 anos, trabalha em sua banquinha de relógios. Acerola, com outra roupa, está ao lado, em sua banquinha de CD´s. VÁRIAS PESSOAS passam. Vemos as ações de Seu Nelson em sincronia com a voz off de Acerola.
Um rapaz se aproxima de Seu Nelson, lhe entrega uma caixa de metal. Seu Nelson a coloca em uma bolsa da parte da frente da mochila.
VEMOS seu Nelson impaciente, olhando as horas. Acerola o observando.
Seu Nelson, ainda impaciente, olhando as horas, fecha sua banquinha, junta as coisas, coloca a mochila nas costas e sai.
Acerola, com a roupa que está agora, aparece sozinho, vendendo um CD.

ACEROLA (Voz off, cont.)
Toda a semana ele recebe coisas pra entregá pro Corujão. Na sexta, alguém vai lá buscá. Só que, ontem, ele tava reclamando que eles tavam atrasando e ele tinha que sair mais cedo. No final, ele saiu antes da hora e ninguém apareceu. Hoje ele num foi. Talvez os cara num pegaro ainda. Eu vou na casa dele pedi pra ele falá pro Corujão que recebeu ontem.

CENA 26 – RUA SEM SAÍDA – EXT – NOITE

LARANJINHA
Fechô, cara! Tu vai lá e eu cuido do Sopa. Deve ser mais de dez agora. Então, uma hora eu tô te esperando aqui!

Acerola e Laranjinha fazem um toque de mãos.
Acerola olha o envelope e sai.
Laranjinha, animado, levanta Sopa.

LARANJINHA
É, e nóis num pode ficá aqui, não. A gente precisa ir pra um lugar mais movimentado.

CENA 27 – RUA DA FAVELA – EXT – NOITE

Acerola caminha a passos rápidos. Ele olha o envelope em suas mãos.
PLANO PRÓXIMO de seu rosto.

CENA 28 – QUADRA DA ESCOLA – EXT – DIA

É hora da educação física. Vários MENINOS suados. Alguns jogando bola, outros correndo, outros conversando. Acerola, Laranjinha, Joana e BITOLA, um colega, estão com um grupo de amigos. Joana abre uma caixa de papelão velha cheia de uniformes e exibe uma camiseta velha e suja.

JOANA
Tão vendo que coisa mais mequetrefe? Assim num vai dá, não. Não mesmo. Os cara do outro time vão ri da nossa cara. Vão é morre de tanto ri da nossa cara.

ACEROLA
Quem sabe aí, a defesa deles dá bobeira, eu entro, driblo o goleiro, faço um gol, e daí eu vou pra galera. A gente fala que é estratégia.

BITOLA
Joana, tem aquele esquema que a gente viu. O uniforme mais da hora é cento e quarenta e cinco real. Num dá. Mas aquele outro, o mais barato, é setenta. Pelo menos é novo.

JOANA
Cada um dá o que pode. Poxa, pessoal! O nosso time ganhou o campeonato da escola. É a gente que vai representá ela contra o vencedor daquela playboyzada do Área Verde.

Todos os garotos concordam.

CENA 29 – RUA DA FAVELA – EXT – NOITE

Acerola olha o envelope, coloca-o no bolso e começa a correr.

CENA 30 – PORTARIA DO BAILE – EXT – NOITE

MÚSICA FUNK de fundo. MUITA GENTE na portaria. Laranjinha, puxando Sopa, sempre entorpecido.
Laranjinha entrega os dois ingressos e entra.

CENA 31 – SALÃO DO BAILE – INT – NOITE

Mãos do DJ mexendo em disco no equipamento. MÚSICA FUNK.
Laranjinha e Sopa entrando.
O salão está CHEIO DE GENTE dançando. Principalmente ADOLESCENTES.
Em outro ponto do salão, o Coiote, enfezado, com a mão dentro da camisa, segurando a arma, procura por Sopa.
(intervalo)

CENA 32 – BAILE – INT – NOITE

MÚSICA FUNK. Laranjinha dança de forma exibicionista para Marcinha, que corresponde sorrindo.
Ao lado, Manguinha se exibindo para TRÊS GAROTAS.

LARANJINHA (Voz off)
Essa aí é a Marcinha. Até que eu tô bem na fita. Mas bem mesmo tá o Manguinha. Agora que o cara é bandido, chove mulher pra ele. Se eu tivesse tanta garota assim...

Laranjinha olha na direção de Sopa.
VEMOS Sopa sentando em uma mesa alheio ao baile.
Mãos do DJ trocando de música. Entra: a mesma MÚSICA da cena 10, agora num ritmo lento, mas animado.
Os casais começam a se formar. Laranjinha se aproxima de Marcinha, segura a mão dela, e dançam colados.
Sopa se levanta e sai andando pelo baile.
Próximo, Coiote continua a procura.
Sopa esbarra em algumas pessoas, leva uns empurrões.
Coiote vê Sopa, bruscamente aponta-lhe a arma. Na direção da arma, as pessoas assustadas afastam-se, criando um corredor com Coiote e Sopa em cada ponta.

CENA 33 – BAILE – INT – NOITE – ANIMAÇÃO

A MÚSICA LENTA continua. O clima não é tão maluco como nas cenas de animação anteriores, objetos animizados não aparecem.
Sopa, vendo COIOTE, assusta-se, suspenso no ar, sua boca abre em um GRITO ESTRIDENTE, seu olhos saltam.
Coiote, apontando-lhe um garfo, avança em sua direção. ALTERNANDO entre um e outro personagem, as cores do cenário mudam em um visual psicodélico.
As pessoas, caricaturizadas como ratos, gatos, cachorros, galinhas e veados se afastam aterrorizadas.
Sopa corre em direção à saída com Coiote logo atrás.
Sopa sai do salão.
Coiote sai do salão.

CENA 34 – BAILE – EXT – NOITE – ANIMAÇÃO

PESSOAS ainda esperam para entrar no salão.
Sopa sai correndo para o lado esquerdo.
Coiote surge em seguida, olha para os dois lados, e sai correndo para a direita.

CENA 35 – BAILE – INT – NOITE

MÚSICA LENTA. Laranjinha e Marcinha são empurrados pela confusão.
A MÚSICA PÁRA. SOM DA CONFUSÃO.
Laranjinha olha na direção da mesa do Sopa.
A mesa está vazia.
Laranjinha e Marcinha se entreolham.
Ele solta a mão de Marcinha.
Laranjinha sai correndo contra o fluxo de pessoas.
Puxa um conhecido pelo braço.

LARANJINHA
Cadê o Sopa? O primo do Acerola?

CENA 36 – PORTARIA DO BAILE – EXT – NOITE

Confusão com as PESSOAS assustadas saindo do salão.
Laranjinha aparece entre elas e corre para a esquerda.

CENA 37 – RUA DA FAVELA – EXT – NOITE

PLANO PRÓXIMO do rosto de Sopa correndo. Ele olha para trás.
PLANO MAIS ABERTO dele correndo.

CENA 38 – OUTRA RUA PERPENDICULAR – EXT – NOITE

Gaguinho e Caneca, este com um walkman no bolso da calça, fones no ouvido, seguem calmamente pela rua em direção ao cruzamento para onde se dirige Sopa.

CENA 39 – CRUZAMENTO – EXT – NOITE

Sopa chega ao cruzamento e se vira, de encontro aos bandidos. Do seu lado esquerdo, um barraco de esquina. Ele está na ponta direita dianteira do barraco. Gaguinho e Caneca, próximos ao mesmo barraco, na ponta direita traseira.

CANECA
Gaguinho, olha! Já num era pra alguém tê passado esse viado?

Sopa, os vê, assusta-se, volta e corre pela mesma rua em que vinha, no mesmo sentido em que fazia, seguindo pela frente do barraco de esquina.

CANECA
Mata o merda!

Ordena, ao mesmo tempo em que tira bruscamente o fone dos ouvidos deixando-os caírem pendurados. Entra: a MESMA música da cena 10, agora num ritmo mais tenso e sombrio, estilo clássico.
Gaguinho e Caneca entram à sua direita, contornando o barraco de esquina por trás, enquanto Sopa desce a rua.

CENA 40 – FAVELA – EXT – NOITE – ANIMAÇÃO

Os traços são mais realistas, com exceção de Sopa, que continua o mesmo ratinho. Tons sombrios.
PLANO PRÓXIMO do rosto de Sopa, desesperado, correndo.
RESPIRAÇÃO OFEGANTE.
EM CÂMERA LENTA, Sopa olha para trás e volta o rosto. Sopa assusta-se e pára.
Aos poucos surge o cano de uma arma, o tambor, a mão a empunhando. PLANO PRÓXIMO da arma empunhada.
PONTO DE VISTA de Sopa. Gaguinho de braços abertos, não como um gato, mas uma caricatura diabólica de si mesmo.

GAGUINHO
Por hoje é só, pessoal!

Efeito parecendo ao telespectador rápida mudança de canais.

CENA 41 – TELEJORNAL

ÂNCORA
O consumo de drogas entre jovens aumenta no país.

CENA 42 – SALA – INT – TELENOVELA MEXICANA

Paródia de telenovela mexicana. Sala de uma grande mansão. No sofá, EUGÊNIO FRACO, rapaz bonito, de terno e gravata, o protagonista abraça BRANQUINHA, garota punk, maquiagem preta manchando o rosto branco, alheia à situação. Em pé, VIDA, uma mulher mais velha, bonita e bem arrumada, apontando o dedo para Eugênio.

VIDA
Eugênio Fraco, Branquinha não é mulher prá você! Você tem todo um futuro pela frente!

EUGÊNIO FRACO (quase chorando)
Não posso, Vida! Eu não consigo mais viver sem ela!

CENA 43 – CAMPANHA PUBLICITÁRIA

Final de um comercial contra as drogas. A mão em sinal de pare surgindo na tela.
Outra propaganda começando.
EFEITO DE TV DESLIGANDO

CENA 44 – FAVELA – EXT – NOITE

Gaguinho e Caneca obrigam Sopa a deitar-se. Sopa, a partir de agora, aparece passando muito mal.

GAGUINHO
Deita aí, rapaz! Você morre e eu subo no conceito!

PONTO DE VISTA de Sopa do chão. Gaguinho, sorrindo, aponta-lhe a arma e puxa o gatilho. Falha.
Gaguinho chacoalha a arma, volta a apontá-la e puxa o gatilho. Falha.

CENA 45 – CRUZAMENTO – EXT – NOITE

Laranjinha corre, olhando por todos os lados à procura de Sopa.
UM TIRO.
Laranjinha pára assustado e, em seguida, acelera pelo caminho que vinha fazendo, em direção do tiro.

CENA 46 – FAVELA – EXT – NOITE

Gaguinho, com a arma apontada para cima, olha na direção que o cano aponta, ri sarcasticamente.

GAGUINHO
Bala perdida...

Aponta a arma para Sopa, prepara-se para atirar.
Laranjinha surge.

LARANJINHA
Não! Peraê!

Gaguinho e Caneca o olham.

LARANJINHA (sem fôlego)
Peraê. O cara já pagou. Já tá tudo certo. O dinheiro tava com o seu Nelson.

GAGUINHO
Já pagou!?

Gaguinho e Caneca se entreolham desconfiados.
Laranjinha ajuda Sopa a se levantar.

CANECA
Aí, Laranjinha! É o seguinte: vamo resolvê essa parada com o Corujão, falou?

Gaguinho concorda.
Sopa vomita. Gaguinho e Caneca, com nojo, conduzem Sopa, de ressaca, e Laranjinha.

CENA 47 – OUTRO LUGAR DA FAVELA – EXT – NOITE

Acerola, andando apressadamente, vê PLÍNIO, um bandido mais velho que ele, se aproximando de arma em punho e a mochila da cena 25 nas costas.

ACEROLA
Isso aí é do seu Nelson?

PLÍNIO (sem parar)
É. Pra entregá pro Corujão.

Acerola tira o envelope do bolso e começa a acompanhar Plínio.
Tenta pegar a mochila.

ACEROLA
Qué que eu carregue?

PLÍNIO
Tira a mão, muleque! Isso aqui é importante!

Acerola se põe a acompanhar Plínio em silêncio. Nas mãos, o envelope branco.

CENA 48 – BARRACO DA BOCA – INT – NOITE

O barraco, conforme na seqüência II. Corujão sentado na poltrona. Laranjinha, cabeça baixa, e Gaguinho de frente. Mais atrás, Caneca e Sopa, visivelmente mal, suando muito.

CORUJÃO
Qué dizê que o dinheiro tá num envelope branco com o seu Nelson? Tá de boa. O Plínio foi na casa dele e já deve tá chegando. Aí, o CÉREBO mandô bala nucê, hoje?

LARANJINHA (voz baixa)
É... a gente só queria avisá da grana.

Plínio, com a mochila, e Acerola entram no barraco.

CORUJÃO
Aí, Plínio! Vê se tem aí nessa bolsa um envelope branco com setenta conto do Sopa aqui.

Plínio consente com a cabeça e senta-se no sofá com a mochila no colo. Acerola senta-se ao lado com a mão no bolso de trás e olhos fixos na mochila.
Laranjinha também fixa-se na mochila, apreensivo.
Plínio a vasculha cheia de papéis, bolo de dinheiro, sacos e caixas. Numa bolsa entreaberta da parte da frente, a caixa de metal da cena 25 pende.
Laranjinha, olha para Acerola que o encara, sem expressão alguma.
Acerola desvia o olhar.
Laranjinha volta a olhar para o chão.

PLÍNIO
Envelope branco? Tem não.

Corujão, com indiferença, segurando uma arma pelo cano, entrega-a para Laranjinha. Em seguida, se levanta do sofá como que se fosse saindo.

CORUJÃO
Mata o merda.

Laranjinha pega a arma, olhos lacrimejando.
Gaguinho e Caneca fazem Sopa se ajoelhar.
Laranjinha encara a arma.
PONTO DE VISTA de Sopa. Gaguinho, bruscamente, pega a mão de Laranjinha e o faz apontar a arma para Sopa.
Plínio continua vasculhando a bolsa para se certificar.
Acerola tira o envelope dobrado do bolso de trás e o segura escondido entre as mãos.
Olha para Laranjinha, em seguida, para o envelope.

CENA 49 – SALA DA ESCOLA – INT – DIA

Intervalo de aula. Pequenos grupos na sala. Num canto Carlos e Joana, com MARISA, uma amiga, ao lado, conversam com outros colegas. Joana e Marisa seguram cadernos e estojos coloridos, com detalhes femininos, coraçõezinhos e florzinhas.
Acerola e Laranjinha vão passando por eles, sem chamar a atenção. Acerola tem os olhos fixos em Joana.

CARLOS
Joana, são cento e quarenta e cinco, é? Pode deixar que eu guardo o dinheiro até a gente comprar o uniforme.

JOANA
Se liga, garoto! A gente só vai conseguir os setenta pro mais barato e olha lá. Além disso, de vocês, o Acerola é que é o mais responsável.

Acerola se espanta e pára, abobalhado, sem tirar os olhos de Joana.
Laranjinha, que continuou andando, percebe que o amigo não o segue, volta-se e o chama rindo.

LARANJINHA
Anda, manezão!

CENA 50 – BARRACO DA BOCA – INT – NOITE

VEMOS

CORUJÃO (gritando)
Atira logo, porra!

SILÊNCIO. PONTO DE VISTA de Sopa. A arma apontada, com o cano abaixo do enquadramento. Laranjinha fecha os olhos com força, uma lágrima escorre.
FLASHS rápidos de todos os “mata o merda” ditos.
Laranjinha abre os olhos.
ENQUADRAMENTO de perfil da mão de Laranjinha segurando a arma e parte desta, o cano, fora do enquadramento.
SOM DA CAIXA DE METAL CAINDO, parecendo o tiro.
A caixa de metal que estava na bolsa, agora no chão, juntamente com todo o conteúdo da mochila.
Plínio, chacoalhando-a de boca pra baixo, olha para o pessoal assustado que o encara.
Acerola, furtivamente, joga o envelope na bagunça.
Laranjinha, ofegante, encara Plínio.

PLÍNIO
Foi mal, pessoal.

Plínio volta a olhar para a bagunça e vê o envelope. Pega-o.

PLÍNIO
Ei! Achei!

Plínio se levanta e entrega o envelope a Corujão.
Corujão o abre e confere o conteúdo.
Laranjinha e Acerola se entreolham.

CORUJÃO
É, esse merda já pagou mesmo. Fazê o quê? Leva ele embora.

Acerola levanta-se apressadamente e tira a arma de Laranjinha, ainda paralisado.
Laranjinha desperta.
Os dois levantam o Sopa e caminham para a saída.
ENQUADRAMENTO no rosto de perfil de Acerola e Laranjinha, saindo tristemente.
A imagem CONGELA por três segundos.
DESCONGELA-SE. Acerola sorri e se volta.
Laranjinha, segurando Sopa, o olha, sem entender.

ACEROLA
Corujão, tá sabendo que o meu time vai jogá contra o pessoal da escola do Área Verde?

Corujão o olha indignado.

ACEROLA
Então, o duro é que aquela playboyzada comédia veio tirá com a nossa cara porque o nosso uniforme tem uns cinco anos, e a gente não tem dinheiro prá comprá um novo, né?

CORUJÃO
Tão vendo? Tão vendo porque eu tenho que cobrá esses viciado do caralho? Senão depois eu num tenho dinheiro prá ajudá a comunidade. Quanto é que é?

Laranjinha sorri.

ACEROLA
É... Cento e quarenta e cinco real.

Corujão olha para o envelope branco na mão, tira mais dinheiro do bolso, separa mais R$80,00, coloca no envelope, e entrega tudo para Acerola.

CORUJÃO
Tem cento e cinqüenta aí. Aqueles comédia do asfalto num vão ri da nossa cara, não.

Acerola sorri para Laranjinha e os dois se voltam para a saída. Laranjinha guia Sopa, Acerola segura o envelope branco, agora todo amassado, nas mãos.
ENQUADRAMENTO CONGELADO do rosto de perfil dos dois, agora, sorrindo.

Nenhum comentário:

Receba as atualizações do meu blog no conforto do seu e-mail!

Digite o seu endereço de e-mail e clique em "Subscribe":

Delivered by FeedBurner