sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tati Bagunça

- Fiz três coisas que nunca tinha feito na minha vida!

Ela estava atrasada. Um dia e meio. Era terça-feira, uma hora da tarde. Mas já estavamos todos acostumados mesmo...

Seu lema era o já famoso, talvez infame, “sexos, drogas e rock n' roll”. Religiosamente, todos os dias. Estudar e trabalhar eram para as horas vagas – isso se não estivesse curtindo uma ressaca.

No feriadão, que emendou quinta a domingo, tinha viajado para São Tomé das Letras. Ela mais um amigo, da mesma escola de vida.

Meu trabalho fora devidamente colocado de lado.

Ia relatando tudo. Bebeu, fumou, deu... E bebeu outra vez, e fumou e deu de novo...

E entrou no capítulo dos causos picantes.

- Fiz três coisas que nunca tinha feito na minha vida!

- Pelamordedeus! Nem precisa me contar. Já tenho até idéia do quê você vai falar. Te conheço...

Ela riu. E não contou. Ou seja, devia ser algo do nível que eu estava imaginando mesmo.

Quanto a repor as horas atrasadas, nem pensar! Daqui a pouco, ela tinha aula de bateria. Depois, festa da turma da faculdade... Na terça-feira! Os amigos não paravam de ligar. Amanhã cedo, que não contássemos com ela.

Na sexta seguinte, viajava de novo, tinha mais "coisas-que-nunca-tinha-feito-na-minha-vida" para fazer.

Há meses que não a vejo e não ouço aquelas histórias de corar até os nada puritanos.

Com seus 23 anos, a vida estava no começo. Excelente faculdade, bom emprego, morando sozinha em São Paulo. Apesar disso, não planejava o futuro. Ele viria, de qualquer jeito.

Não veio. Sem nenhum alarde, no fim-de-semana, ela se jogou da janela do décimo segundo andar. Nada é fácil de entender. Faculdade, trabalho, amigos, baladas, tinha tudo. Morte besta.... Besta para quem não conhecia a história dela. Talvez, só ela conhecesse. Esta não é a história dela.

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